Robert Prevost assumiu o cargo de papa Leão XIV nesta quinta-feira (8)AFP

Temos um novo papa latino-americano. E, mais uma vez, o mundo volta seus olhos para o Sul Global.
Nascido nos Estados Unidos, o cardeal Robert Francis Prevost – agora conhecido mundialmente como Papa Leão XIV – também possui cidadania peruana, adquirida após décadas de dedicação pastoral no continente sul-americano. Natural de Chicago, ele chegou ao Peru em 1985, enviado à missão agostiniana em Chulucanas. Em 2015, ano em que se tornou cidadão peruano, foi nomeado bispo de Chiclayo, chegando a ocupar a vice-presidência da Conferência Episcopal Peruana.
Sua eleição, logo após o falecimento do Papa Francisco, argentino e primeiro pontífice do continente, reforça um movimento simbólico e estratégico: a centralidade crescente da América Latina no coração da Igreja Católica. A região abriga cerca de 40% dos católicos do mundo, mesmo diante da queda proporcional da fé católica em meio ao avanço de outras religiões e à secularização.
Trata-se de um continente marcado por dramas sociais profundos: desigualdade estrutural, pobreza, fome, violência, corrupção, crises ambientais e migrações forçadas. A ascensão de Leão XIV ocorre sob a sombra de novas ameaças, como a promessa de deportações em massa nos Estados Unidos, feitas por seu conterrâneo, o presidente Donald Trump.
Diante desse cenário, paira uma expectativa essencial: Leão XIV dará continuidade à missão social e ecológica de Francisco, defensor dos pobres e da “nossa casa comum”?
Seu primeiro discurso, logo após a fumaça branca elevar-se sobre a Praça de São Pedro, oferece pistas claras. Nele, o Sumo Pontífice evocou sua identidade agostiniana.
Fundada em 1256, a Ordem de Santo Agostinho inspira-se na espiritualidade do bispo de Hipona, que viveu entre 354 e 430 d.C. Seus valores centrais — vida comunitária, caridade, justiça e busca interior de Deus — ressoam com a urgência de uma religião presente nas dores e esperanças do povo.
A escolha de Leão XIV pode representar não apenas a continuidade de um pontificado voltado aos mais vulneráveis, mas também uma nova etapa na trajetória da Igreja: mais próxima das periferias do mundo, mais comprometida com a justiça social e mais aberta aos desafios do século XXI. Entre a tradição e o novo, sua liderança carrega um simbolismo pastoral poderoso, ouvido pelos líderes mundiais. Pelo potencial de sua mensagem, o mundo observa com esperança seus primeiros gestos. Aguardamos com grande expectativa.