Cristina Pereira diz ter sido vítima de estupro aos 12 anos: 'Horrível'Foto: Matheus Zanchet/Divulgação

O debate sobre o filme “O Clube das Mulheres de Negócios”, dirigido por Anna Muylaert, foi marcado por um momento de profunda emoção na manhã deste domingo (11), durante o Festival de Cinema de Gramado. A atriz Cristina Pereira, de 74 anos, surpreendeu a todos ao compartilhar, pela primeira vez, uma experiência traumática de sua infância. A artista revelou ter sido vítima de estupro aos 12 anos.

"Cheguei no colégio com o uniforme aberto e ninguém se preocupou, só queriam saber por que eu estava chegando atrasada", iniciou a atriz, emocionando a plateia. Ela descreveu como a cena do personagem Candinho, que sofre assédio no filme, ressoou com sua experiência. "Quando o Candinho chora, sou eu que choro e são muitas meninas de 12 anos, com aquela menina que estava a caminho do colégio e mataram aquela menina", desabafou.

Em seu relato, ela explicou que estava prestes a iniciar o período da adolescência e era apenas uma criança inocente. "É a primeira vez que falo publicamente sobre isso. Aconteceu comigo, mas está acontecendo agora com muitas meninas. Estava entrando na puberdade, nem tinha ficado menstruada.
Cristina ressaltou criticou a resistência em discutir o tema sexual nas escolas. "Eu não sabia nada sobre sexo, não sabia o que aquele homem tinha feito comigo, uma coisa horrível", lamentou, apontando para a importância de uma educação que previna abusos.
Seu depoimento trouxe à tona a realidade de muitas meninas que, assim como ela, enfrentam traumas que podem permanecer silenciados por décadas. "Na minha época não tinha educação sexual nas escolhas. E essa turma do boi, da bíblia e da bala não querem que as crianças saibam", pontuou.

O impacto do relato foi tão forte que o debate foi interrompido momentaneamente, enquanto a diretora Anna Muylaert acolhia a atriz. Contudo, Cristina decidiu permanecer e continuar a discussão. O filme, que faz uma crítica ao patriarcado e às estruturas de poder, propõe uma inversão de papéis, destacando as mulheres como figuras dominantes.