Diretora da Vogue Brasil é acusada de criar ambiente tóxico e de terror
Funcionários das empresas por muitas vezes eram depreciados e eram constantes as cenas de profissionais chorando em banheiros e corredores
Capa de junho da Vogue BrasilReprodução de internet
Por O Dia
Não achem que vamos contar alguma exclusiva ou algo que a maioria já não saiba. A postura da diretora- geral da 'Vogue Brasil', Daniela Falcão, já era conhecida no mercado de moda e celebridades. Só o citar do nome dela era causa de pânico em algumas celebridades que, para fazer parte das páginas da revista, se submetiam aos mais diversos caprichos da manda-chuva.
Em entrevista ao 'BuzzFeed News', alguns funcionários da publicação descrevem o clima de terror que se fazia continuamente presente nas mais diversas áreas comandada pela diretora geral. Ex-editora da revista 'Glamour', a jornalista Mônica Salgado, relatou que Daniela usava palavras fortes para desmerecer o trabalho ou a capacidade intelectual de diretores. Ainda disse que eram comuns os momentos de constrangimento e desconforto pra todos.
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Monica ainda relata que a autoridade de Falcão era inquestionável pelo cargo que ocupava e também por ter autorização dos seus superiores, usando disso para passar por cima de pessoas e ignorando hierarquias, atropelando processos e tomando decisões sozinhas. Fato que causou um problema para uma de suas publicações, quando em um editorial associou uma modelo que não tinha idade para anunciar bebidas alcoólicas ao produto, prática condenada pelo CONAR e a lei 13.106/15, que criminaliza a venda de bebida alcoólica para crianças e adolescentes. De acordo com o texto, é proibido vender, fornecer, servir, ministrar ou entregar a menores bebida alcoólica ou outros produtos que possam causar dependência.
A questão, segundo o depoimento, foi resolvida sem desdobramentos éticos ou jurídicos, pois Daniela, como era sabido por todos, tinha o mercado nas mãos – usando do medo que causava nas pessoas. Já Marina Milhomem conta que nas primeiras horas em seu primeiro dia de trabalho se deparou com gritos vindos do escritório da mesma Daniela Falcão, mas o que para Marina era novidade, logo ficou claro que era uma rotina.
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Outros funcionários fazem relatos de comentários maldosos vindos da diretora-geral, sobre as roupas e aparência de seus funcionários. Ainda nos depoimentos, outro ponto marcante é que funcionários, com medo de serem humilhados, deveriam sempre concordar com o que Daniela falava: "Isso era institucionalizado: ou você aceita uma posição de sempre ela estar certa, ou vai ser humilhado. Existiam as humilhações simples, como quando ela se virava e deixava você falando sozinha e as mais diretas, como quando gritava em reuniões com clientes ou com o resto da equipe".
Cenas de intimidações também eram freqüentes. Em um dos relatos, uma jornalista conta que Daniela, após não receber um texto que esperava, saiu de sua sala em direção à repórter aos berros: "'Sua fedelha! Quem você pensa que é para fazer isso comigo? Como você ousa dizer que não vai entregar essa matéria?'. Daí ela se debruçou na minha mesa e disse: 'Olha no meu olho! Diz que você não vai entregar!'", contou a repórter, que disse que era possível ouvir os gritos a 15 metros de distância. Funcionários das empresas por muitas vezes eram depreciados e eram constantes as cenas de profissionais chorando em banheiros e corredores.
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Marina Beltrame, que foi produtora executiva da revista 'Vogue', lembra que durante todo seu tratamento de câncer, escondeu a doença de todos de seu ambiente de trabalho com medo de represálias. "Eu ia fazer procedimento na hora do almoço, escondida, não contava para ninguém. Não contava porque precisava ser produtiva, uma máquina de trabalho. Eu não tinha nem noção de que podia ir fazer um procedimento e ir para minha casa". Marina afirma que lembra do trabalho como "baseado em infinitas horas, humilhações e gritos, mas com um tule protetor por cima".
Funcionários que procuravam o departamento de Recursos Humanos da empresa não obtinham sucesso, pois a impressão que todos tinham, inclusive os funcionários do RH, era que as regras e leis não se aplicavam a Daniela. Há depoimentos de que alguns funcionários chegavam a fazer jornadas de 24 horas seguidas.
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Essa coluna procurou alguns assessores de imprensa que lidam com a revista e aceitaram falar sob a condição de sigilo, pois temem retaliações de revistas do grupo. "A arrogância é total dentro da 'Vogue'. Você é tratado mal por jornalistas, estagiários que se acham a nata da sociedade por trabalharem na revista e quando você marca uma reunião com a Daniela, inclusive para levar dinheiro para revista, ela te trata de uma forma que parece que está fazendo um favor em olhar para sua cara", diz um assessor de celebridades.
Já outro, conta que existe uma rivalidade entre os veículos do grupo e repórteres da 'Vogue', além de tratar as pessoas de forma arrogante, respondem e-mails ou ligações quando querem. "Eles ainda ameaçam dizendo que, caso a personalidade dê preferência a outros veículos, terá dificuldades para sair em matéria nas plataformas da 'Vogue'".
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A coluna apurou que existe uma rivalidade grande entre a revista 'Vogue' e a revista 'Quem' por matérias e personagens que possam gerar interesse e ocupar a home da Globo.com, lugar de desejo e visibilidade de todas publicações do grupo. Será que esse tipo de atitude ainda será admitida em pleno 2020? E pior: será que elas serão acobertadas pelo diretor geral do Infoglobo, Fred Kachar?