Gastão Reisdivulgação

A “progressista” esquerda brasileira, lançando mão da técnica de Gramsci, marxista italiano que pregava a tomada do poder pela superestrutura, ou seja, imprensa, televisão, rádios, sindicatos patronais e de trabalhadores, escolas, universidades etc, acabou sendo descoberta pela ampla maioria conservadora do País. E resultou na vitória dos candidatos de perfil conservador de direita nas últimas eleições. A má-fé de Gramsci ficava evidente ao propor que tudo isso deveria ser feito sem que as pessoas percebessem. Como se diz, na moita. Mas, finalmente, perceberam.
Durante muito tempo no Patropi, a esquerda usou o rótulo de progressista, taxando a direita de conservadora em que esta última palavra era usada como sinônimo de atraso. E foi assim que, durante décadas, a maioria conservadora foi amordaçada, e, de certa forma, subjugada por um discurso político que a associava a tudo de ruim que teria havido em nossa História. Puro jogo de cena político, sem visão histórica alguma, ao esquecer, por exemplo, que as leis abolicionistas foram todas passadas por gabinetes conservadores no Império.
Boa parte da intelectualidade se deixou encantar pela obra de Marx, como a Bíblia redentora a ser lida, e posta em prática, para que o País pudesse de fato avançar. (Eu mesmo, no início da vida adulta, li O Capital, página por página, num curso do Prof. Lauro Campos, na UnB). Mas pouco se falava da luta de classes como motor (enguiçado, claro!) da História para não assustar a população. E foi assim que penetraram no ensino médio para angariar adeptos mal-informados sobre os reais problemas brasileiros a serem enfrentados.
E passaram a contar a história do Brasil que era conveniente a seus propósitos. O Brasil passou a ser o último grande país a abolir a escravidão, sem mencionar que houve uma política séria de alforrias, única no mundo, que havia libertado 80% dos descendentes de africanos quando foi assinada a Lei Áurea. Até em colégios religiosos de prestígio nacional, professores de História passaram a seus pupilos a tal visão crítica em que nosso passado só tinha coisas ruins, propondo-lhes um futuro (socialista) que seria tudo de bom.
Claro que a figura do empresário nas aulas saía bem chamuscada. Despertar o espírito empreendedor dos alunos estava fora de questão. Cuba, Nicarágua e Venezuela eram países heroicos em luta contra o maldito capitalismo. Felizmente, as redes sociais e a reação conservadora trouxeram ao grande público a realidade dos fatos nesses países. Pobreza e fome.
Aos poucos, a reação conservadora foi-se firmando. Escola sem política foi um movimento que, fundamentalmente, queria livrar as crianças da doutrinação gramsciana. Aquela coisa cretina de lhes fazer a cabeça sem que elas notassem que estavam indo nessa direção. A má-fé é evidente. Cristo quando andou nestas paradas terrenas jamais escondeu a que veio. Sempre disse a seus apóstolos qual era sua missão salvadora sem enganar ninguém. Obviamente, os milagres que ele fazia sem buscar maior divulgação eram a confirmação de sua divindade. Tudo às claras.
Essa contraposição entre Gramsci e Cristo deixa claro os propósitos de cada um. Um pregava o amor ao próximo em geral, o outro pregava o amor ao mais próximo, aquele do grupelho partidário sempre pronto e enfiar a mão no dinheiro público com a desculpa de que o usava para o bem do povo, vale dizer, o povo obediente ao partido salvador da pátria. Quem não se lembra das manifestações do PT turbinados a sanduíches de mortadela e refrigerante e um troco para atrair o manifestante, lá no fundo, não muito convicto. A militância do PT havia ido para o brejo. As últimas eleições estão com jeito de pá de cal.

Aquele palavrório lulista sem maiores compromissos, em especial com números inventados por ele, o grande cacique, foi perdendo toda credibilidade. O segundo 7 de setembro esvaziado em Brasília não poderia ser mais eloquente da ilegitimidade de Lula para a maioria da população brasileira. Em especial pelo fato de ter sido ressuscitado politicamente pelo STF, nas palavras do ministro aposentado Marco Aurélio Mello. Não poderia ter sido sequer candidato. Aqui está a raiz da ilegitimidade de Lula pouco mencionada e sua brutal rejeição a ponto de fugir de contatos públicos a não ser do domesticado.

Não obstante, o discurso da grande mídia e do andar de cima, comprometido até as orelhas com o status quo desigual, nos diz que está lutando pela democracia. Exatamente aquela que não permite ao eleitor brasileiro controlar seu representante entre as eleições. Sem voto distrital puro, ou equivalente, e a possibilidade de revogação de mandatos (recall) pelos eleitores quando seu representante não estivesse à altura. Aquela democracia que deixaria um europeu ou um americano rindo entre os dentes.
Mas o drama brasileiro vai além em termos de representatividade. Distorções introduzidas no sistema eleitoral brasileiro pelos militares para dar maior peso político ao Nordeste jamais foram removidas após a dita redemocratização com a saída dos militares. Exemplo: enquanto um deputado federal por São Paulo, em média, precisa mais de 100 mil votos para se eleger, um de Roraima pode chegar ao congresso com 15 mil.
Nos EUA, onde vigora o critério de um homem um voto, pouco importando o estado em que esteja localizado, levou, no passado, a estado que não tinha sequer um representante na Câmara Federal. Acabava sendo representado pelo deputado federal do estado vizinho.
O mais grave é que estamos diante de uma situação política que internalizou as distorções deixadas pelos militares. As regiões mais dinâmicas do país estão sub-representadas politicamente, e assim incapazes de, democraticamente, propor reformas e políticas capazes de beneficiar o País como um todo. Mais ainda: levar a sério o combate à desigualdade.

Nota: Digite no Google: “Quando o Brasil perdeu o rumo da História”. Entrevista minha com mais de 23 mil visualizações.