Descolei, por acaso, um velho filme, sim amigos, filme, onde o maestro e compositor Érlon Chaves dá um show com a sua Banda Veneno. Ah, também aparece o coral Sociedade Amigos do Mocotó, o SAM. Que coisa! Foi no V Festival Internacional da Canção, no Maracanãzinho. A música, de Jorge Ben, Eu Também Quero Mocotó, ficou em sexto lugar. Mas, no encerramento do festival, a música foi escolhida como tema.
Érlon surgiu no palco, encabeçando a fila com a banda e o coral, ao som da música. A moçada levantou das arquibancadas, cantou e dançou no balanço. Que espetáculo. Foi em 1970, ainda com a censura e a ditadura mandando em tudo e em todos. Só estou lembrando aos amigos porque, sem querer, esbarrei nas imagens do filme. Caramba, passei quase uma semana cantarolando Mocotó.
Agorinha, escrevendo essas histórias, cantarolei muito mais. E continuei com aquela orquestração espetacular na mente. Já aconteceu algo parecido com vocês ?

Ontem, quando o bando de amigos adentrou no quintal, dias depois que redescobri o filme, uns dois ou três dos vizinhos deram o flagrante: eu, agarrado com a vassoura, dançando alguns passos e cantando o único refrão do 'Eu quero mocotó'. Escutei a salva de palmas mas não me encabulei. Dei a volta por cima, raciocinando rápido, e fiz o convite: - Que tal encararmos um mocotó neste outono? - Silêncio enquanto se entreolhavam.
Fred, bom de boca, foi o primeiro a falar: - Boa ideia. Vamos marcar logo para não desanimar. - E, outros amigos foram aparecendo e a informação do próximo cardápio agradou geral. Aproveitando o assunto alimentação, alguém perguntou: - Temos tira-gosto? - Apontei para a mesa, na varanda. Garrafa com café
fresco, salaminho em fatias bem finas, empadinhas de camarão e pipoca salgada além, óbvio, de bolachas.
Claro que imaginei que as cervejas iriam surgir a qualquer momento. E não deu outra. Adilsinho viu que o quintal já estava limpo e arriscou: - Ô, Luar, enquanto degustamos e bebemos, porque não conta uma aventura de um seu conhecido, aquele que morava em São Cristóvão? - Caramba, o cara não se esqueceu do ocorrido com o Setembrino. Sem outra alternativa, puxei uma cadeira, bebi um gole de café e fui à luta: - Amigos, foi lá pelas bandas de 1977, quando eu trabalhava, pela terceira vez, na Última Hora. O Setembrino, velho companheiro de trabalho e de farras, havia se casado com uma funcionária da expedição do jornal, que funcionava em horário noturno - tenho que explicar a diferença de fusos horários entre o casal.
E, continuando: - A mulher saiu para trabalhar e Setembrino curtia uma tarde/noite regada a cervejas, em excesso, claro. - Incrível, como falei em cervejas, a atenção dos amigos foi maior ! E continuei: - Setembrino acordou lá pelas bandas de meia noite e resolveu sair para beber mais uma. E notou que estava trancado no apartamento, no quarto andar. Telefonou para a esposa, reclamando. Ela nem deu bola. Furioso, tentou escalar, usando as janelas dos vizinhos dos andares inferiores. Não conseguiu.
Essa história, amigos, é verdadeira, juro! Possesso, Setembrino, repórter policial, resolveu telefonar para o Corpo de Bombeiros e pedir ajuda. Acendeu uma vela na cozinha. Só que, mentiu um pouquinho, dizendo que acontecia princípio de incêndio em sua casa e não conseguia sair. - Mais um gole de café, com bolacha - e continuei: - Antes de se passarem 6 minutos, equipe completa dos Bombeiros chegou, sirenes ligadas, vizinhança acordada, escada Magirus a postos, a PM interditando o tráfego de pessoas e carros, confusão geral. Setembrino foi resgatado. Os valentes soldados do fogo logo viram o engodo.
O cara foi entregue à PM e ele acabou respondendo por notícia policial falsa. - Parei de falar, peguei o bendito celular e reproduzi o som da música Mocotó. E continuei: - Ao amanhecer, Setembrino saiu da delegacia policial e foi direto para um bar, ali, no Campo de São Cristóvão. Bebeu todas que conseguiu. Pouco mais tarde, ao chegar em casa, foi recebido "carinhosamente" pela mulher. Ela estava munida com toalha molhada. Nesse dia, Setembrino não foi trabalhar.