Luarlindo Ernesto, repórter do Jornal O DIA.Arquivo O DIA

Cronometrei ! Precisamente às 6h16 da manhã, as ararinhas pousavam nas árvores do quintal. Barulho para acordar meio mundo. As aves comeram as frutas que conseguiram e partiram escandalosamente. Não sei o destino. E, às 16h53, o bando voltou. Claro, com o barulho peculiar. Comeram novamente, permaneceram 17 minutos, no cronômetro, e partiram de volta às árvores, penso eu, em direção à Floresta da Tijuca. Pelo menos, a direção que tomaram, indicou que poderia ser o destino de descanso para a noite que se aproximava.
E foi neste horário, vespertino, que dois vizinhos, com menos de uns dez anos na área, viram que eu estava com o cronômetro em punho. Notei que cochicharam alguma coisa. Ora bolas. Será que não ouviram, ou viram, as aves?
"Ô Luar, tá anotando horário que passamos em frente a sua porteira?", perguntou o mais afoito. "Vai fazer relatório sobre nosso caminhar?, emendou o mais baixinho. Nem respondi de imediato. Tomei nota do horário do regresso das ararinhas. Respondi bem depois: "Não reparei os amigos. Estava apreciando a natureza, as aves, as árvores, o céu".  Ih, acho que não entenderam. E continuei: "Só vi vocês agora, depois da partida das ararinhas". Os caras, ao que pareceu, não acreditaram.
Fiquei na dúvida: mostro, ou não, as anotações sobre os horários das aves nas árvores do quintal? Abri a porteira e balancei o bloco de anotações quase nos rostos dos vizinhos. Não estou aqui para cuidar das idas e vindas deles. Só me preocupo com a fauna que habita a propriedade e a vizinhança. Hoje mesmo, o Júlio já tinha avisado que o tucano sumiu do quintal dele. Preocupante. Foi aprisionado por algum inconsequente? Morreu ? O que aconteceu com ele ? Por aqui, a ave não apareceu também. O tucano batia o ponto diariamente na área.

O casal de beija flor, que se acha dono da pitangueira, não falha. E não gosta de intrusos. As rolinhas, mais numerosas, se espalham no quintal... Um solitário xanxão, ou pixoxó, vem, examina o ambiente, escolhe onde se alimentar. Não demora muito. Some-se em direção ao céu. Tem o bem-te-vi, que chama sua turma com o canto estridente e com decibéis incríveis. Caramba, é uma população de aves que, vez por outra, consulto o Google para não me enganar.
E foi neste horário vespertino que apareceu o Fred. Trouxe cervejas. Os dois vizinhos, ainda parados em frente a porteira, observaram a bolsa com as bebidas. Ainda bem que, como não foram convidados, bateram em retirada. Providenciei os salgadinhos e logo o tempo fechou. "Ih, Fred, bebe rápido. A chuva tá chegando". "Vamos até a varanda. Lá não chove e fica longe dos vizinhos", decretou o amigo. E foi pegando embrulho no fundo da bolsa. Céus ! Codornas assadas na brasa. Aves ! Me recusei a comê-las.