Os que sobreviverem, verão
Foi o calor que ajudou os ingleses a inventar a bermuda, essa que adotamos, tipo calça curta. Usei muito na infância, antes de virar moda, acredito. E, nossas mulheres, claro, adoraram a peça também. Ah, e nossas filhas, parentes, vizinhas e desconhecidas, claro. Mas, bem antes, homens e mulheres, aqui no Rio de Janeiro, andavam cobertos, incluindo as cabeças, com chapéus e outros adornos. Sem esquecer as polainas. Já imaginaram, nós, com esse sol e seu calor implacável, cobertos como os almofadinhas? Suando em bicas, escorrendo corpo abaixo, tentando ver, pelo menos, um tornozelo da alguma dama distraída, embarcando nos bondes do Largo do Tabuleiro da Baiana, ali, no hoje Largo da Carioca? Só mesmo com um gelado refresco de coco, da Confeitaria Colombo, ou da Casa Cavé, ali pertinho, para amenizar a tortura de 40 graus.
Nem vou falar em chope. Difícil, ou inexistente, naquela época. Vejo imagens, nos dias de hoje, de trabalhadores e trabalhadoras, saindo da Gare Dom Pedro II, na Central do Brasil. Ih, 90 por cento dos usuários usando bermudas. Que diferença de costumes. Bem, para melhor, é evidente. Eu mesmo, confesso, já cheguei ao estacionamento da firma, vindo de casa para a labuta, usando calção de banho e camiseta regata. Parava o carro, vestia calça e camisa social. Tirava o chinelo Charlote, calçava meias e sapatos e entrava no prédio do jornal vestido a caráter. O ar-condicionado do carro era um alívio. Mas o simples traje de banho servia para o consciente mandar mensagem de ambiente fresco no surrado Seat, modelo Ibiza, ano 92, equipado com sistema para derreter neve e gelo nos vidros. Sim, o carro é fabricado, até hoje, na Espanha. E não emplacou no gosto brasileiro. Na Argentina tem, até hoje, muitos veículos desta marca rodando nas províncias. E todos os modelos vêm com aquecimento central! Aliás, vi centenas desse carro na França. Não posso contar nada da Espanha. Nunca estive naquelas bandas. Falta de oportunidade.
Mas, voltando ao calor carioca, lembrei do gaúcho dos pampas. Ele não aguentaria as suas vestimentas clássicas por nossa região. Até o velho amigo Fernando, lá pra dentro de Friburgo, vez por outra reclama do calor. Chego até a imaginar ele, de bermuda e camiseta, pés no chão, reclamando do sinal da Internet. Se estivesse no Rio, trabalhando presencialmente, estaria usando terno e gravata. Céus. Enquanto isso, o Nelson nunca usou bermuda e camiseta em público. Só calça social e camisa de mangas curtas. Tênis? Jamais. Tal qual o Fred, que nunca mostra as canelas brancas. Bermuda era vestimenta que usava no trabalho, embarcado, cruzando os sete mares. Ah, camiseta de mangas compunha seu vestiário. Aposentado, aparece todas as manhãs vestindo calça e camisa para varrer as folhas das árvores na sua calçada.
Adilsinho é outro que não é chegado a bermuda. Mas, quando a temperatura extrapola e chega aos 40 graus, não resiste e aparece com a peça, invenção inglesa. Até nós ônibus, homens e mulheres esbanjam modelos variados, de marcas famosas ou confecção caseira. Mas, tenham calma. O verão tá quase no fim. Eu, pelo menos, adoro o verão...no Alaska.
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