A proposta do amigo Júlio foi aprovada com louvor: para hoje, sábado, cozido à moda portuguesa. Porém, com direito ao pirão e, acompanhado de vinho. Então, as carnes salgadas foram desalinizadas na sexta-feira. Legumes, verduras, dois quilos de peito bovino, já cortados em cubos, espigas de milho fervidas e os temperos partidos e conservados na geladeira. Ah, o panelão brilhando, aguardando a hora de ir ao fogão movido a lenha.
E, enquanto falávamos e separávamos os ingredientes para o almoço, nada melhor do que saborear, na sexta, torresmos servidos com umas cervejas. Adilsinho trouxe folhas de boldo, para preparar os fígados da turma. Assim, o cozido foi saudado na véspera, como um aquecimento para o dia de hoje. Ninguém puxou assunto de futebol. Que bom.
Também não se falou sobre mazelas. Nem as nossas, nem as do mundo. A lua vermelha foi um dos assuntos que acompanharam o preparo do cozido junto com o vinho seco, mas não amargo.
O que mais se falou foi sobre os preparativos para o banquete. Nossa homenagem singela, ao almoço de domingo em família dos lares brasileiros.
Foi Nelson quem lembrou que precisávamos também selecionar a trilha sonora que embalaria a comilança. Quase em coro, o pedido foi o fado. Não aquele fado de Roberto Leal, que durante anos representou Portugal em terras brasileiras, mas o mais clássico dos fados: Amália Rodrigues. Sim, Ibiapina conseguiu tem alguns anos comprar o LP álbum duplo “O Talento de Amália Rodrigues”. Para os mais jovens que chegaram agora à coluna, LP é aquele disco preto com um furo no meio tocado em vitrola; álbum duplo, porque eram dois discos com os maiores sucessos e a Amália foi a mais aclamada fadista portuguesa de todos os tempos.
- Mas fado não é meio triste, não? – questionou Fernando.
- E alguém lá liga para isso bebendo um vinho? O cozido vai animar a festa, com certeza – remendou o Fred.
Ficou para a patroa a tarefa de fazer o pirão, que será preparado na hora. Aí, é acrescentar o caldo da carne do cozido à farinha de mandioca, e pronto.
De repente, nada mais do que de repente, Ibiapina apareceu trazendo uma garrafa de bagaceira, a cachaça portuguesa, que esquenta mais do que o fogão daqui de casa.
O grande problema foi convencer a turma a esperar o sábado. Com o apetite despertado pelos torresmos, todos queriam atacar ontem mesmo o prato português. O jeito foi assar um churrasquinho de improviso.
Afinal, é hoje, dia de sábado, que aparecem os vizinhos de todos os pontos cardeais: de Norte ao Sul, de Leste a Oeste, um ótimo almoço para todos os amigos. E eles chegarão trazidos pelos ventos uivantes, previstos pela meteorologia, batidos e rebatidos da Serra dos Pretos Forros. E na temperatura ideal para o almoço: 25°C.