Quero ver chegar no jogo e apostar um dinheiro que você não tem em mãos. E as autoridades monetárias vão saber onde você gastou o seu DrexArte: Kiko

De tanto ouvir os coleguinhas, na TV, chamando ônibus de coletivo e trem de composição, decidi que estava na hora de entrar nessa moda de buscar palavras antigas para compor histórias sobre mazelas da cidade, cá pra nós, ainda mais velhas do que esse linguajar. Afinal, sigo antenado com o tempo, seja ele dos dias ou do clima. Assim, reconto em linguagem dos anos 50/60 uma história do dia a dia. Vamos a ela.
Ao amanhecer, me despedi da consorte, dei um afago na progenitora, e saí. Desci o logradouro, atravessei na confluência entre as ruas Santa Fé e Arquias Cordeiro, no Méier, e embarquei na composição férrea que me levou à Central do Brasil. Desembarquei e embarquei num coletivo, seguindo para o trabalho. Mas, ainda sentindo os efeitos da constipação que me pegou nos últimos dias, decidi antes passar no nosocômio.
Saindo de lá, avistei um ponto de jogo do bicho e decidi fazer uma fezinha. Até porque confio mais na velha forma de aposta, presencial e olho no olho, criada ainda em 1892, do que nessa nova onda das tais bets, essas apostas feitas através de aplicativos, em que a única certeza que se tem é a saída do dinheiro da conta bancária.
Ah, esqueci que embora seja o jogo mais antigo em atividade no país, o bicho permanece uma contravenção. E aí, palavra velha vai, palavra velha vem, eu me recordo do tempo em que que cassinos eram uma atividade legal que empregavam muitos trabalhadores, como faxineiras, croupiers, operadores, seguranças e até artistas que transformavam aqueles ambientes em uma festa coletiva.
Lembram do Quitandinha, em Petrópolis? O Cassino da Urca que virou estação de televisão, a TV Tupi? E tantos outros em estâncias hidrominerais. Eram as roletas e carteados, além de outros jogos. E os maravilhosos espetáculos que traziam cantoras e cantores de espetáculos tipo Las Vegas.
Foram todos proibidos pelo então presidente, o marechal Eurico Gaspar Dutra, por determinação de sua esposa, conhecida como santinha, de santa que era. Tirando essas apostas tecnológicas e autorizadas, que estão sugando até mesmo os parcos benefícios da população, o que resta, amigos, permanece na ilegalidade, desde aqueles priscas épocas da década de 1940. E continuamos também assistindo a caçadas policiais contra velhinhos que buscam o bingo nas casas agora clandestinas das Zonas Sul e Oeste (Barra da Tijuca e Recreio dos Bandeirantes).
Cariocas, das Bets, quero distância. Ih, agora, para total controle do governo, vêm chegando os tais Drex. Quero ver chegar no jogo e apostar um dinheiro que você não tem em mãos. E as autoridades monetárias vão saber onde você gastou o seu Drex. Cuidado. Pode ir em cana!