Luarlindo Ernesto, jornalista mais antigo de O DIA em atividade, foi homenageado nesta sexta-feira (31) na Associação Brasileira de Imprensa (ABI) - Pedro Ivo / Agência O Dia
Luarlindo Ernesto, jornalista mais antigo de O DIA em atividade, foi homenageado nesta sexta-feira (31) na Associação Brasileira de Imprensa (ABI)Pedro Ivo / Agência O Dia
Dias de brotoejas em picolés. Mas hoje, sábado, que frescura! Ufa, demorou. Vamos churrascar, expressão inventada por Júlio, que não trabalha hoje. E nem mesmo amanhã. E foi ele quem chegou primeiro, apoiando as bolsas de compras na mesa da varanda: carne de boi, costelinha suína, linguiças e frangos desmontados. Ah, reforço no carvão. E o comprovante da despesa, claro, para o rateio financeiro. Fred chegou mais tarde, com as cervejas quase congeladas.
Para dar início aos trabalhos, a patroa serviu as torradinhas levemente lambuzadas com azeite ao alho, e Adilsinho acendeu o braseiro. E deixou pedaços de gorduras para perfumar a fumaça e avisar aos vizinhos que a reunião estava iniciando. Bastou. Logo chegou Ibiapina com a rapaziada de bombordo, boreste e outros pontos cardiais. O rateio das despesas foi feito, mãos limpas, goelas secas e apetites aguçados.
Caramba, dava para escutar o silêncio e o estalar do carvão ficando em brasas. E mais vizinhos chegando. O som, na vitrola movida a corda, gramofone para os íntimos, deixava o som suave das vozes de Lúcio Alves e Dick Farney invadir o ambiente: “Teresa da Praia”, no momento em que Mario Melo, recém-chegado da Tijuca, acionou o sino da porteira. Com aquela voz grave, foi anunciando: alô gente, trouxe suco de acerola. Caramba, até o Ronaldo chegou do Leblon: trazendo uma kafta já temperada.
Único a beber o suco do Mário, lembrei, e não falei, do último gurufim que participei na extinta favela da Praia do Pinto, no Leblon. Ih, tem mais de cinquenta anos. Foi durante velório de um bandido, morto em circunstâncias misteriosas, após uma manifestação contra a retirada compulsória dos mais de 10 mil moradores. Alguém incendiou, criminosamente, os barracos. E eu bebia Grapette em uma birosca do local. Fugi da área, rebocando o fotógrafo que fazia a dupla comigo. Deixei o refrigerante e corri com um pedaço de broa de milho que estava na mão. Não lembro se paguei a despesa. Vida agitada naquela ocasião. Eita! Que lembrança miserável em pleno churrasco de amigos! Acho que foi efeito colateral do suco que o Mario trouxe.
Ronaldo não avisou que a kafta estava apimentada. E o efeito foi imediato. A corrida ao banheiro ocasionou fila. Quase que o churrasco foi para o brejo. Mas, em festa de arromba, o que mudou foi a música: saíram os cantores e entrou a orquestra Tabajara, de Severino Araújo.
Adilsinho foi até o quintal e espalhou milho picado para deleite dos pássaros. O amigo trouxe o tira-gosto das aves e nem avisou. Sei que, rapidamente, a área ficou cheia dos pequenos. Maravilha. Fred, atento a tudo e a todos, foi logo providenciar água. Caramba, o som que vinha da vitrola foi abafado pelo farfalhar dos pequenos animais no quintal. Pura alegria. Bem-te-vi bem que alertou: do jeito que estão íntimos do quintal e de todos do principado, qualquer dia esses pássaros vão participar do churrasco.
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