Incrível essa onda de quedas de aviões e helicópteros que vem ocorrendo desde o ano passado. Faz a gente pensar, mas o que estará acontecendo nos céus do planeta? Os especialistas garantem que não há nenhum fenômeno climático por trás disso, e que também não houve aumento proporcional do número de acidentes. Ao contrário. Proporcionalmente, o risco até reduziu. O que aumentou de fato foi o número de aviões circulando. Só ano passado, estima-se que cinco bilhões de passageiros tenham sido transportados pelo ar. Só num dia de julho, foram mais de 275 mil aviões passando por cima de nossas cabeças no mundo.
O assunto surgiu na última conversa entre amigos da caverna de Água Santa. E me trouxe inúmeras lembranças. A maioria aqui voou pela Panair.
No passado, atravessar o país, de Norte a Sul, a bordo de um avião era um grande desafio para nossos aviadores. Tanto por dentro, pelo continente, quanto por fora, pelo litoral. Eu ainda era menino quando meus pais me autorizaram viajar com um amigo da família que era piloto. Era um voo para Belém e eu pude conhecer a cabine do comandante.
Ali descobri que era pelo prefixo das emissoras espalhadas pelo interior e pelo litoral, pelos pontos mais escondidos desse país, que os aviões se guiavam para saber de fato onde é que estavam, no momento em que sobrevoavam essas regiões. Eram as emissoras que guiavam os pilotos numa época que não havia radar, apenas uma bússola precária. Quando voltei do voo, tratei de fazer uma biruta em casa, improvisando um cabo de vassoura, um coador de dois litros de café, mas nunca funcionou. Depois de quatro dias com o coador pendurado na vassoura no alto do quintal, a minha vó Beatriz desmontou tudo:
— Meu filho, os pilotos não vão avistar sua biruta.

Lembro dos programas de auditório da Rádio Nacional. Entre os cantores que se apresentavam ali estava o Jorge Veiga, dono de sucessos como o samba “Acertei no milhar”. Ele iniciava suas apresentações com um bordão que ficou famoso na época: “Alô, alô, aviadores que cruzam os céus do Brasil. Aqui fala Jorge Veiga pela Rádio Nacional. Estações do Interior, Queiram Dar os Seus Prefixos Para a Guia de Nossas Aeronaves”.

Havia ainda da dupla de humoristas Lauro Borges e Castro Barbosa, dos velhos tempos da rádio Mayrink Veiga, que estreou, um programa com o nome de “PRK30”, numa brincadeira com os prefixos das rádios. Era uma emissora fictícia que não guiava os pilotos, mas nos fazia rir.

Com o tempo a tecnologia avançou e a aviação cresceu tanto que já engarrafa os céus . Periga ter mais avião do que passarinho no ar. Mas amigos, com todo o conhecimento, o homem ainda não alcançou a perfeição do voo das aves. Sendo assim…

Senhores passageiros, boa viagem, pé na tábua e fé em Deus.