Percebendo minha irritação com esse vaivém, mas mais do que vem, nas falhas da internet aqui do nosso confim de Água Santa, os amigos aqui da caverna deram a ideia da gente reinserir o velho sistema de correio, ou seja, o pombo correio para a entrega dos meus textos.
Precisaríamos apenas da equipe de especialistas para o treinamento dos pombos. Será que ainda existem?
- Os pombos-correios têm minúsculas partículas de ferro no bico superior que funcionam como as agulhas de uma bússola. Por isso não se perdem - explicou o Fernando, que entende de leis. E de pombos.
Bem, decidido isso, peguei no armário a velha Remington, com a qual bati minhas reportagens sobre o assalto ao trem pagador em 1960. Estava inteirinha, foi preciso apenas trocar a fita de tinta que
estava ressecada, que comprei numa papelaria no centro da cidade.
Agora toda vez que eu escrevo, aquele bando de amigos fica ao redor, me dando maior força. O pica-pau é que não entendeu o barulho das teclas batendo no rolo, tec, tec, tec, tec. Mas ele tem voltado sempre, acho que ele um dia vai entender...
O barulho do bater da máquina não atrai apenas o pica-pau curioso, mas a memória afetiva de nossos velhos tempos. E todos nós sentimos saudades do velho carteiro que trazia as cartas de amor, de grandes confissões. Hoje, só aparece de vez em quando para trazer boletos.
Cada um dos velhos amigos lembrou de um profissional que não existe mais, o leiteiro, o padeiro, tinha o sujeito que consertava panelas, o sapateiro, tudo era entregue nas portas. Profissionais que caíram no esquecimento. Mas não para nós.
Hoje quem chega ao portão e aos nossos ouvidos são os motoqueiros entregadores, com suas buzinas e motores barulhentos, rompendo o silêncio.
Ibiapina lembrou do tempo das vendinhas. A gente comprava cedinho 250 gramas de café moído na hora, 200 gramas de mortadela, o pão e ainda, de vez em quando, comprava umas fatias de carne seca para o almoço.
Naquele tempo, fiado era o sistema de comércio que fazia girar a economia dos bairros. Naquela época fake News era uma carta anônima. Hoje, com a invenção da fibra ótica, uma notícia, falsa ou verdadeira, chega do outro lado do mundo, em fração de segundos e com poder de fogo para que uma empresa cresça ou quebre, que um país declare guerra a outro por um mal-entendido, ou que a paz seja restaurada em redes sociais. Só tem um problema, como costuma falar o amigo Ronaldo, basta tirar da tomada que o mundo para.
Pensando bem, acho que o Sputinik é o culpado de tudo