Eu estava matutando no quintal, enquanto varria as folhas da ventania passada, ouvindo maxixe no velho walkman que ganhei num verão de 1980, quando me assustei com a percepção, de repente, de que não se trata apenas de um ano novo. Mas do ano de 2025. Ou seja, vivemos já um quarto do século 21. E eu nunca havia imaginado que o futuro, o meu, nascido em 1943, chegaria até aqui. Quanta modernidade vivi para testemunhar.
A tecnologia de hoje nos trouxe a fritadeira sem óleo, o cigarro proibido sem fumaça, o churrasco sem gordura, a cerveja sem álcool, o computador, o celular, a rede e as fake news. O carro elétrico, a inteligência artificial, os robôs e a guerra dos drones.... Caramba! E eu que testemunhei na década de 1950 a chegada da máquina de lavar automática. Um mimo para as donas de casa daquela época.
Mas os costumes também seguiram a batida tecnológica. Os mais antigos vão lembrar o luxo que já foi usar calças de linho, aquelas que eram um inferno para passar e amarrotavam quase que
imediatamente. Mas eram sinal de elegância, principalmente para o malandro que vestia ternos de linho branco. Hoje estão desaparecidas.
imediatamente. Mas eram sinal de elegância, principalmente para o malandro que vestia ternos de linho branco. Hoje estão desaparecidas.
Agora só tecidos sintéticos, que não amarrotam jamais. E não dão trabalho. Encurtaram também as calças com a chegada da bermuda, dos ingleses. E também da mini saia e do biquíni. Jogamos fora os suspensórios, a gravata borboleta e os sapatos de bico fino. O calçado oficial é o esportivo. Aliás, a vida prática trouxe ainda uma espécie de liberdade, de privacidade móvel que você leva para a rua. Ontem mesmo, eu vi um sujeito, senhor, na fila do banco, de pijamas! O malandro se sentia em casa, né?
Fui ao primeiro casamento de um amigo, em Niterói. Pasmem: noivo estava usando tênis. Eu, desavisado, fui de terno, gravata e o melhor sapato de cromo. Banquei o bobo. Eu era um dos padrinhos e, diante dos demais, fiquei parecendo o cara fantasiado para um baile de antigamente que errou o endereço e foi parar no meio de uma festa funk.
A patroa gastou uma grana no vestido novo. Tadinha. Tadinho eu, que morri na grana. O próximo casório, já combinei com ela, vamos de bermudas, camisetas e, como o noivo, de tênis. Mas não foram só os trajes dos casamentos que ficaram informais...
E os sepultamentos? Ninguém mais usa a roupa de luto. Luto só quando o time de futebol perde o campeonato, ou nas manifestações de protestos compartilhadas pelas redes sociais. Eu já decidi e combinei com a família: quando eu morrer, nada de terno. Vou de bermuda, camiseta e chinelos de dedos. É bem mais confortável.
E que aproveitem a minha prótese dentária.
Vou partir antenado com o futuro, mas de uma coisa eu não abro mão. No meu enterro não quero choro, nem vela.
Eu prefiro um animado gurufim.
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