Santuário do Cristo Redentor no Corcovado faz 456 anos
Santuário do Cristo Redentor no Corcovado faz 456 anosDaniel Castelo Branco
Por Nuno Vasconcellos

O Rio de Janeiro, que completa hoje 456 anos de fundação, se vê diante da necessidade de fazer uma escolha definitiva. A cidade e seus moradores precisam decidir o caminho que pretendem seguir daqui por diante e definir com clareza aonde pretendem chegar nos próprios 20 ou 30 anos. Precisam decidir se querem continuar ocupando uma cidade que se deteriora dia após dia ou se tomam para si a responsabilidade de consertar o que está errado e melhorar a qualidade do espaço onde vivem e trabalham.
Isso mesmo! Por mais que doa para quem ama esta cidade admitir que a situação não é das melhores, é preciso reconhecer que o Rio, já há alguns anos, deixou de ser visto pelo Brasil e pelo mundo como a Cidade Maravilhosa. E passou a ser considerado um lugar problemático e perigoso. A crise fiscal, que é grande em diversas cidades brasileiras, é gigantesca no Rio. A pandemia do coronavírus, que ameaça vidas no mundo inteiro, parece adquirir uma dimensão ainda maior no Rio. A criminalidade, que preocupa em todas as capitais, é alarmante na nossa cidade.
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Não há como negar a verdade: a situação é delicada e o carioca depende cada vez mais de si mesmo para vencer essas dificuldades. Ninguém virá de fora para oferecer socorro se o cidadão local não agir com a mesma determinação do português Estácio de Sá, ao desembarcar na Baia de Guanabara no dia 1º de março de 1565. Ao invés de olhar para os lados e ficar paralisado diante dos adversários e dos desafios que o aguardavam, ele olhou para a frente e enxergou as oportunidades de ouro que este lugar oferece.

ASSUMIR A LIDERANÇA
A necessidade de os fluminenses começarem a ter atitudes concretas em defesa do estado e de sua capital tem sido tema recorrente nos textos que tenho publicado neste jornal nos últimos meses. Na edição de ontem, por exemplo, insisti na necessidade de um Plano Estratégico que defina os caminhos a serem percorridos para que o Rio deixe de ser considerado um estorvo e assuma a liderança como solução para os problemas econômicos e sociais dele e do Brasil.
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O jornal O DIA, porém, não tem a intenção de cometer o mesmo equívoco que vem sendo repetido há décadas por lideranças e instituições que desejam reduzir os interesses da população a seus próprios interesses. É preciso fazer justamente o contrário: ouvir o que a sociedade tem a dizer e utilizar as informações recolhidas junto aos cidadãos como base para a elaboração de um projeto de longo prazo.
Assim, e nos valendo de uma estrutura que já está presente em mais de 25 municípios e é especialmente sólida na capital, daremos início nos próximos dias, pelos canais eletrônicos da rede O Dia, a uma série de consultas à população. Elas nos permitirão apontar aquilo que a sociedade considera prioritário e definir, entre os problemas do Rio, os que precisam ser atacados primeiro.
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É necessário, com os resultados em mãos, definir prioridades e traçar o caminho que, por exemplo, proporcionará à juventude uma educação de qualidade e capaz de prepará-la para ter lugar num ambiente de trabalho cada vez mais exigente e seletivo. É imperativo não permitir que o crime organizado seja uma barreira e impeça o Estado de proporcionar aos moradores das comunidades serviços públicos de qualidade e uma infraestrutura decente. Há muito para ser feito e cada etapa da jornada precisa ser planejada e posta em prática sem desvios de rotas nem interrupções.

ENGAJAMENTO DA POPULAÇÃO
Esse ponto é importante. Para se livrar dos problemas que o afligem, o Rio precisa abandonar um dos vícios mais nocivos da administração pública nacional: a falta de continuidade. Aqui, como em outras cidades, obras públicas costumam ser interrompidas antes de ficar prontas porque o prefeito ou o governador que entrou não quer dar sequência aos projetos do antecessor.
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A questão é: se isso acontece com projetos de curta duração, planejados para durar dois ou três anos, por que não acontecerá com projetos que, se tudo correr bem, demandarão dez vezes mais tempo do que isso? Para dar certo, o Plano Estratégico precisa contar com o engajamento da população. Só depois que ele deixar de pertencer aos governantes e for assumido pela sociedade que os elegeu é que as ações terão continuidade e o dinheiro público deixará de ser desperdiçado pela interrupção de obras e programas.
No caso específico do Plano Estratégico a ideia é, depois que ele for elaborado, debatido pela sociedade e aprovado nos canais institucionais, fazer com que deixe de ser uma política de governo e passe a ser uma política de Estado, de aplicação obrigatória pelos governantes. Assim, ao assumirem seus mandatos, os futuros prefeitos e os futuros governadores terão sob sua responsabilidade um determinado número de ações importantes para que o Plano tenha continuidade.
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Outro ponto fundamental: é preciso olhar para exemplos bem sucedidos em outras partes do mundo, adaptá-los à realidade local e aplicá-los no Rio. Não há nada errado em aprender com os outros. É preciso, por exemplo, conhecer e implantar no Rio um modelo de intervenções urbanas parecido com o que deu certo em Seul, na Coréia do Sul. É preciso ver o que os colombianos fizeram para melhorar a qualidade de vida em comunidades antes dominadas pelo crime e pelo tráfico, em Medellin. E, também, para resolver os gargalos mais críticos no sistema de transporte público de Bogotá, uma cidade com um relevo mais desafiador do que o do Rio.
É preciso ver o que os norte-americanos e os australianos fazem para cuidar da qualidade da água nas baias de San Francisco e de Sydney e fazer o mesmo na Guanabara. É preciso se inspirar no trabalho que transformou um ponto inóspito no deserto, como era a atual Dubai, num centro financeiro importante para o mundo.
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Alguém pode dizer que é impossível fazer tantas intervenções ao mesmo tempo e que a cidade jamais conseguirá se livrar de seus problemas. Pensamentos como esse, convenhamos, não combinam com a essência do carioca. Ao longo de seus quase cinco séculos de existência, o Rio de Janeiro acolheu e viu florescer uma série de trunfos que precisam, agora, ser postos para trabalhar em benefício da cidade. E preciso honrar a memória de Estácio de Sá e dos que vieram depois dele mostrando que o alicerce da obra que construíram é sólido o suficiente para suportar o edifício das próximas gerações.

Parabéns, Rio. Você não pode ser problema. Tem que ser solução!