Roberto GiannettiBruno Poletti / divulgação

Nosso entrevistado acaba de lançar o seu livro “Penúltimas Memórias”, onde revela os bastidores de acontecimentos que marcaram a história política e econômica do país. Mineiro de nascimento, paulista de profissão e apaixonado pelo Rio de Janeiro, o economista Roberto Giannetti aproveitou sua longa experiência na área de comércio exterior para comentar sobre a situação financeira e econômica fluminense. “A situação tem se agravado nos últimos anos. Sempre imaginei a possibilidade de se criar um grande polo exportador de produtos manufaturados na Baixada Fluminense, com indústrias de mão de obra intensiva e bens de consumo de baixa e média tecnologia, como confecções têxteis, cosméticos, alimentos, couro e calçados, autopeças, e outros”. Giannetti falou também sobre o papel do Rio no futuro do país. “O Rio tem vocação para ser o centro brasileiro da economia criativa, do audiovisual às artes plásticas, da música à literatura, grandes e excelentes museus e centros culturais”.
Qual é a sua expectativa para a economia brasileira?
Os indicadores macroeconômicos de janeiro para cá estão evoluindo bem, inflação na meta, juros ainda elevados, mas com viés de baixa, equilíbrio fiscal em andamento, crescimento econômico ainda baixo, mas acima de 2,0% em 2023 superando as expectativas, enfim com perspectiva positiva para frente. Têm dois fatores cruciais que ainda me preocupam muito: baixa taxa de investimento, ao redor de 19% do PIB e que precisava estar superior a 25%, e a taxa de produtividade dos fatores de produção que continua estagnada desde 2010, o que é gravíssimo. A reforma tributária acende um sinal positivo de simplificação dos impostos de consumo e de redução da regressividade de nossa calamitosa estrutura tributária. Falta a reforma administrativa do setor público, sempre adiada a revelia da sociedade brasileira pelo corporativismo burocrático.
O Rio de Janeiro vive esvaziamento financeiro e econômico. Qual seria o caminho da recuperação?
A situação do Estado do Rio de Janeiro tem se agravado nos últimos anos. Sempre imaginei a possibilidade de se criar um grande polo exportador de produtos manufaturados na Baixada Fluminense, com indústrias de mão de obra intensiva e bens de consumo de baixa e média tecnologia, como confecções têxteis, cosméticos, alimentos, couro e calçados, autopeças, e outros. Além disso, o Rio poderia ser um centro de prestação de serviços de alto nível, gerando empregos em atividades ligadas a turismo, educação, saúde, óleo e gás, navegação marítima, tecnologia da informação. Olha o exemplo da CELMA, uma das maiores empresas do mundo de manutenção de turbinas aeronáuticas que fica em Petrópolis.
O seu livro revive momentos especiais da sua vida. Quais lembranças foram mais prazerosas e as mais dolorosas?
As mais prazerosas são aquelas que fazem lembrar a superação de desafios, a transformação de sonhos em realidade, o bem ao próximo, o benefício ao país. Mas a vida apresenta riscos, e também fracassos, que são muitas vezes frustrantes, dolorosos. Saber tratar a vitória com humildade e a derrota com altivez é a prova do amadurecimento emocional que vem com o tempo. Livro não é para enfeitar estantes, mas para ter consequências, inspirar os leitores, formar opinião, levantar polêmica, despertar reflexão, gerar iniciativas, difundir conhecimento. Se meu livro conseguir uma pitadinha de cada um destes ingredientes, serei muito feliz.
O Brasil permanece, basicamente, exportador de matérias-primas. Como nos libertar desta rotina histórica?
A exportação de valor agregado deveria ser um objetivo obsessivo de nossa economia. Assim fizeram os países que escaparam da armadilha de renda média e evoluíram para se tornarem países desenvolvidos. Valor agregado não é só na fase industrial da cadeia produtiva, mas também na captura de valor comercial pela marca, origem, distribuição, design, qualidade. Não basta produzir barato, é preciso vender melhor. Temos que criar e difundir nossa cultura exportadora. Leva tempo, mas é preciso começar e perseverar.
O estado do Rio de Janeiro tem que papel a ser desempenhado no futuro breve do Brasil?
A antiga capital do Brasil é uma das cidades mais bonitas do mundo. Tem um potencial turístico incomensurável, jamais explorado adequadamente. Poderia ser como Roma na Itália ou Barcelona na Espanha para citar duas referências. O Rio tem vocação para ser o centro brasileiro da economia criativa, do audiovisual as artes plásticas, da música a literatura, grandes e excelentes museus e centros culturais. O Rio inspira a criatividade brasileira, lá nasceram o samba, a bossa-nova, o cinema novo, lá estão uma grande parcela dos nossos melhores artistas e intelectuais. Basta organizar esta inteligência carioca num movimento de valorização da vida e do espaço cultural carioca.