Deputado federal Otoni de Paula (MDB)Divulgação

O deputado Otoni de Paula (MDB) é radialista, teólogo e pastor evangélico. Foi vereador da cidade do Rio de Janeiro e está em seu segundo mandato consecutivo na Câmara Federal, integrando, entre outras, as Comissões de Direitos Humanos, Minorias e Igualdade Racial; Defesa dos Direitos da Mulher; além de Previdência, Assistência Social, Infância, Adolescência e Família. Conservador, foi o único deputado da direita a criticar publicamente a megaoperação nos Complexos do Alemão e da Penha que resultaram em 121 mortes.
SIDNEY: O senhor é muito franco nas suas posições. Quais as suas críticas à megaoperação no Alemão e na Penha?
OTONI DE PAULA: Sempre defenderei a nossa polícia. Nunca defendi e nunca defenderei bandidos. Mas, faço do meu mandato, um mandato de luta pela democracia e em defesa dos direitos humanos. Como vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos, vi no local alguns indícios claros de excessos cometidos na operação e, segundo relatório já enviado pelo governo do estado do Rio de Janeiro, se comprova que a maioria absoluta das câmeras corporais estavam desligadas. Os mandados, que foram a razão da megaoperação, sequer foram cumpridos. Uma operação desse tamanho pra mim só será bem-sucedida com a tomada de território. No outro dia, a boca de fumo estava no mesmo lugar e a comunidade continuava oprimida pelo crime organizado. Neste caso, a vida dos policiais foram ceifadas a troco de quê?
Por que o senhor entende que as facções criminosas não devem ser enquadradas como grupos terroristas?
Está claro no nosso ordenamento o que são facções e o que são grupos terroristas. Vendeu-se a ideia para o povo brasileiro de que apenas classificar facções como grupos terroristas resolverá o problema da segurança pública. Mentira! Confundir facções criminosas com grupos terroristas, além de não resolver o problema da insegurança sentida na pele pelo povo brasileiro, trará ao nosso país grandes dificuldades econômicas. Enquanto outras nações não querem admitir ao mundo que têm terrorismo em seu solo, parte dos políticos brasileiros acha bonito dizer que temos grupos terroristas. Há de se perguntar a quem interessa, se não aos americanos, que vieram com esta ideia estapafúrdia, dizer que temos terroristas. Além disso, e isto é o mais grave, poderíamos abrir um precedente para intromissões externas em nosso país. Se bem que já teve senador pedindo para Trump jogar bomba na Baía de Guanabara.
Quais os riscos desta polarização Igreja e a ideologias políticas?
Eu tenho defendido que a Igreja precisa voltar ao seu eixo tradicional. De 2018 pra cá, com o advento do bolsonarismo, criou-se a ideia que a Igreja é de direita. Ainda que existam aspectos na direita que são defendidos pelos nossos princípios de fé, não podemos confundir os princípios bíblicos com ideologias políticas. Defendo que a Igreja não é de direita ou de esquerda, não é de Lula e nem de Bolsonaro. A Igreja não está a serviço do governo ou dos interesses políticos do momento. Cada crente tem o direito de exercer as suas escolhas políticas e, como qualquer cidadão, arcar com elas. É possível ser evangélico e votar em Lula, assim como ser evangélico e votar em Bolsonaro. Fé e salvação não podem ser confundidas com ideologias ou atos políticos.
Qual o futuro da direita sem Bolsonaro?
A direita é maior do que bolsonarismo, assim como o conservadorismo é maior do que a direita. Antes do movimento bolsonarista, já havia a direita, e antes de existir a direita, havia uma sociedade conservadora. O conservadorismo, portanto, perpassa quase todos os espectros ideológicos. Há conservadorismo na extrema direita, na direita, no centro e inclusive na esquerda. Sim, existem conservadores de esquerda. Você só não terá o conservadorismo na extrema esquerda (PSOL, PcdoB, Rede). Portanto, eu enxergo que, apesar da ausência de Bolsonaro - que, sem dúvida alguma, foi e ainda é a maior expressão de liderança da direita - há condições de avançar, mas sem o extremismo bolsonarista.
As tentativas de aproximação do governo Lula com a igrejas evangélicas dará certo?
Criou-se uma ideia de que o presidente Lula fecharia as igrejas, lutaria contra os princípios e os valores que nós cristãos defendemos, que no seu governo meninos usariam banheiro de meninas e meninas usariam banheiro de meninos. O tempo passou, Lula está no seu terceiro governo, e nenhuma dessas profecias do caos moral se cumpriram. É dever do governo tentar diminuir o abismo que o separa dos evangélicos, na sua maioria. Mas, embora faça sinalizações à comunidade evangélica, acredito que ainda será muito difícil uma aproximação clara e efetiva nas próximas eleições.