Búzios formaliza pedido de tombamento para pedaço da ‘África Geológica’
Rocha que se separou há mais de 132 milhões de anos foi encontrada no Quilombo da Baía Formosa, território que recebeu africanos escravizados no passado e que atualmente é habitado pelos descendentes
O objeto em questão é uma rocha fragmentada com mais de 2 bilhões de anos que faz parte da "África Geológica". - Ludimila Lopes (RC24h)
O objeto em questão é uma rocha fragmentada com mais de 2 bilhões de anos que faz parte da "África Geológica".Ludimila Lopes (RC24h)
O Secretário de Cultura e Patrimônio Histórico de Armação dos Búzios, Luiz Romano de Souza Lorenzi, formalizou, juntamente ao Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (INEPAC), um pedido de tombamento para uma descoberta geológica significativa. O objeto em questão é uma rocha fragmentada com mais de 2 bilhões de anos que faz parte da “África Geológica”. Ela se separou vulcanicamente há 130 milhões de anos durante a colisão entre a África e a América do Sul, e foi encontrada no Quilombo da Baía Formosa, território que recebeu africanos escravizados no passado e que atualmente é habitado pelos descendentes.
De acordo com a geóloga Kátia Mansur, responsável pela descoberta, essa rocha deixou uma parte do que chamou de “África Geológica” em Armação dos Búzios e, justamente, no Quilombo da Baía Formosa. Entendendo a urgência da proteção, o Secretário Lorenzi tratou de buscar apoio para a proteção do patrimônio junto ao Governo do Estado através do INEPAC.
O encontro entre a Prefeitura de Armação dos Búzios, o INEPAC e o Conselheiro Estadual de Tombamento, Manoel Vieira, foi fundamental para que o município tivesse convicção sobre a promoção do tombamento do bem. Para o instituo, a descoberta é muito simbólica e fortalece as políticas de preservação da geologia e da cultura afrodescendente.
Ana Cristina Carvalho, Diretora Geral do INEPAC, comentou sobre a importância do tombamento: “É uma descoberta importante, que se dá num contexto cheio de simbolismos. E para o INEPAC é uma honra fortalecer as políticas de preservação da geologia e da cultura afrodescendente. Afinal, o INEPAC começou essa política com a proteção da Pedra do Sal, na década de 1980, a pedido de Joel Rufino. Recuperou seu legado com o tombamento do terreiro de candomblé Ilê Axé Opó Afonjá, em São João de Meriti, em 2016, a pedido do Frei Tatá e da Mãe Regina. E agora vai novamente revolucionar com o tombamento desse achado geológico fantástico feito pela Prof. Kátia Mansur”.
Lorenzi também reconhece a importância do tombamento para a comunidade tradicional que ocupa o território de forma secular: “Tão importante ou mais que a descoberta geológica é o que ela representa para a comunidade. É muito provável que seja o único quilombo do Brasil que tenha um fragmento geológico da África nele, e entendo que isso seja um fato muito representativo para todas as comunidades quilombolas do Brasil que hoje lutam pelo reconhecimento de sua cultura”. O Secretário assumiu ainda o compromisso de reunir representantes dos Quilombos de Armação dos Búzios e a comunidade científica para juntos traçarem a forma com que esse registro geológico será preservado.
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