Praia do Farol, em Arraial do CaboReprodução internet
A Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado Federal realizou, nesta segunda-feira (27), uma audiência pública para debater a PEC. No encontro, que teve como relator o senador Flávio Bolsonaro (PL), atuante na aprovação do projeto, foram apresentadas críticas de especialistas, que apontaram que o texto abre brechas na lei para criar praias privadas, além dos altos riscos ambientais.
Diferentemente do que se possa imaginar, os “terrenos de marinha” não pertencem à Marinha do Brasil. São propriedades da União estabelecidas há quase dois séculos, em 1831, e compreendem áreas localizadas na costa marítima, margens de rios e lagoas, manguezais, apicuns, além das que contornam ilhas costeiras e oceânicas. Na Região dos Lagos, diversas áreas paradisíacas como a Praia das Conchas, a Ilha do Japonês e as Dunas do Peró estão entre as que podem ser afetadas.
Assim como na audiência pública na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), as opiniões sobre o PEC estão divididas em Cabo Frio. A maioria das pessoas acredita que, caso aprovada, ela pode gerar privatização do acesso ao mar, degradação ambiental, causado principalmente pela especulação imobiliária em áreas frágeis, e aumento da desigualdade social. Mas há quem seja a favor pela descentralização da arrecadação, que hoje é da União, e com a PEC, iria diretamente para os municípios, que saberiam melhor como gerir o dinheiro.
Defensores da PEC argumentam ainda, que ela acabaria com a cobrança da taxa de laudêmio (um percentual cobrado sobre transações de imóveis em áreas da União).
Lucas Muller, representante da ONG de defesa ambiental Anhangá, já é mais radical. “A proposta de PEC só favorecerá o “grande empresário” (ou seja, a muitos criminosos ambientais em potencial), principalmente aquele que tem ânsia em lucrar em áreas de proteção permanente (APP), de biodiversidade única, e com menos ou quase nenhuma fiscalização num futuro possível. Na prática essa lei não favorece o próprio governo federal, que em tese deixará de arrecadar cerca R$ 200 bilhões com cessões dessas áreas hoje sob fiscalização; não favorece em nada o Meio Ambiente que agora passará a ter seu bioma destruído pela especulação imobiliária, haverá ainda a segregação social, uma vez que essas áreas de resorts e condomínios de luxo são para quem tem grande poder econômico. A classe média e baixa não terá mais acesso a essas áreas, a não ser que trabalhem com empregos/subempregos nesses empreendimentos”, afirmou.
Foi também o que ressaltou o deputado federal Túlio Gadêlha (REDE – PE) durante a audiência. “Mais da metade da população brasileira, 54,8%, vive perto do litoral aqui no país. São 111,2 milhões de pessoas, morando a uma distância máxima de 150 quilômetros da costa do mar. Privatizar os terrenos de marinha é aumentar a falta de acessibilidade às áreas litorâneas, é estimular a destruição da biodiversidade e colocar em risco a vida de milhões de pessoas. Deveríamos estar discutindo a adaptação das cidades e a mitigação dos efeitos da emergência climática. Em vez disso, senadores negacionistas querem aprovar a PEC 03/22, que agrava os eventos climáticos extremos, a exemplo do que acontece no Rio Grande do Sul”, completou nas redes sociais.
“Cancunização” do Brasil
Críticos alertam ainda, que a medida, junto com outras propostas, como a que legaliza jogos de azar, faz parte de um projeto de “cancunização” do Brasil, em referência à cidade mexicana conhecida pelo turismo desenfreado e sem controle ambiental.
A movimentação do senador Flávio Bolsonaro, do PL do Rio de Janeiro, para aprovar a proposta de emenda que dá margem à privatização de praias retoma uma ideia do governo de Jair Bolsonaro. Cobranças do então presidente para criar “Cancúns brasileiras” mobilizaram ministérios e fizeram o ministro da Economia da época defender a venda de praias, construção de resorts com participação até do jogados Neymar.
Mobilização
Diversas organizações ambientalistas e movimentos sociais estão engajados na luta pela proteção das praias brasileiras. Uma votação sobre ela está acontecendo através de uma consulta pública, para votar, basta clicar no link (aqui).
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