Rio - ‘Quero ficar no teu corpo feito tatuagem”. O trecho da música de Chico Buarque fala daquilo que marca e fica na pele para sempre. As meninas da nossa matéria da semana levam isso a sério: além de eternizar no corpo seus traços, fazem disso sua profissão, com orgulho e competência. Elas chegaram para ficar num solo que, há até bem pouco tempo, era totalmente masculino.
Eliana Quintella, 33 anos, uma das fundadoras do estúdio Lady Luck Tattoo e Piercing — segundo a tatuadora, o primeiro estúdio do estilo no Brasil — há seis anos trabalha com equipes totalmente femininas, na administração e na execução.
“Tatuo há 16 anos. Quando comecei, não era comum mulheres tatuarem. Ainda há machismo. Está enraizado, as pessoas não percebem”, conta Eliana, que tem 14 tatuagens.
Savannah Figueiredo, 22, e Carol Machado, 27, também trabalham no estúdio Lady Luck. Savannah foi da Biologia para a tatuagem aos 17 anos e teve apoio da família: seu pai deu o primeiro equipamento. “Eles me incentivam. Minha bisavó tem 83 anos e acha minhas tatoos lindas”, diz ela, com dez espalhadas pelo corpo. “Como tatuadora, passei a me aceitar como artista”.
Já Carol começou a tatuar por influência do irmão. Foi com a cara e a coragem no estúdio em que ele trabalhava e pediu uma oportunidade. “Fiquei um tempo observando e depois fiz cursos. Peguei cobaias para treinar. O melhor da profissão é o exercício da nossa arte”, revela a dona de 25 tatuagens, especialista em mandalas e pontilhismo.
Mas nem só em universos exclusivamente femininos trabalham as tatuadoras. A grande maioria atua em estúdios mistos. Como Bruna Andrade, 21, e Gabriela Blaezer, 23, que trabalham há quatro anos no King Seven Tattoo, criado pelo tatuador Daniel Tucci há uma década. Bruna faz licenciatura em Artes Plásticas e só tatua em preto, sua marca registrada. Ela não sabe quantos desenhos tem pelo corpo.
“Parei de contar. O melhor é poder fazer um trabalho autoral, fazer o que gosto. Tenho o corpo muito tatuado, e na rua ainda rolam olhares preconceituosos, mas rola também curiosidade”, revela.