Por leandro.eiro

Por Samuel Rosa

Rio - Tudo começou quando Carlos Santana pediu para a Sony Latin America indicações de canções para ouvir, pois estava iniciando a gravação de um novo disco. Ele recebeu várias músicas de artistas latinos e, quando ouviu ‘Saideira’, disse que gostaria de me convidar para gravar com ele, sendo que eu precisava apenas colocar a voz em espanhol. Eu prontamente aceitei, e dei uns 40 pulos de alegria. Nem levaria guitarras, já que apenas colocaria a voz sobre a base pronta. Faltando três dias para a viagem, chega um e-mail perguntando se eu precisava que a Sony alugasse uma guitarra para mim. Fiquei meio ressabiado, e disse: “Vou levar uma, vai que surge uma oportunidade e seria legal fazer com o meu próprio instrumento”. E valeu a pena demais.

Samuel Rosa(E)sobe ao palco com Santana na House of Blues%2C em Las Vegas. Convite foi surpresa para o líder do SkankArquivo pessoal / Samuel Rosa


Segunda-feira 20.05.2013
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Cheguei em Las Vegas por volta das 14h e fui direto para o hotel. Após um rápido banho, me dirigi ao Odds On Studios. Fui recebido pelo empresário do Santana e pelo próprio guitarrista. Dei a ele camisas do time de futebol do Skank e DVDs da banda. Seguimos para ouvir as bases que a banda dele tinha feito. Gostei muito do que ouvi, pois não mexeram muito na estrutura da música e colocaram um groove legal. Nesse momento, Santana falou que, devido à longa viagem, eu poderia gravar a voz no dia seguinte, mas recusei prontamente, dizendo que me sentia bem para gravar naquele momento. Foi quando Santana disse: “Nada como ser jovem!” E arrancou risadas de todos.
Quando a música começou, Santana começou a dançar, mexendo os braços para cima, e falou que gostaria que os metais gravassem na manhã seguinte para que, depois, ele colocasse sua guitarra. Pediu também para eu acompanhar todas as etapas, pois queria minha opinião.
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Terça-feira 21.5.2013
Chegamos ao estúdio por volta de 11h da manhã. Enquanto o pessoal terminava de gravar os metais, Santana me agradeceu novamente por eu ter ido, e eu lhe disse: “Carlos, este encontro é um presente de Deus”. Ele puxou assunto sobre música brasileira e me disse que gostava muito da melodia de ‘Manhã de Carnaval’, de Luiz Bonfá. Esse papo terminou com a seguinte pergunta para Santana: “Como foi o processo para que você escolhesse ‘Saideira’?”. Ele respondeu: “Senti uma energia muita boa nessa música, ela foi feita com sentimento e não com pensamento”.
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Durante a gravação, Santana deixou todos em estado de êxtase. Bastaram quatro tentativas para que batêssemos palmas. Ao reparar que estava tudo certo, Santana pediu um break, para que pudéssemos almoçar.
Sentamos à mesa com ele e eis que deu-se aquele silêncio. Como detesto esse hiato, perguntei a ele sobre sua apresentação no festival de Woodstock, em 1969. Ele disse: “Não lembro muito, porque o Jerry Garcia (do grupo Grateful Dead) me deu uma mescalina e comecei a viajar. Quando o Jerry passou por mim e perguntou ‘que horas é o seu show?’, respondi: ‘Acho que é logo depois do seu’. E Jerry disse: ‘Bem, eu acabei de tocar, então creio que vão te chamar daqui a pouco’”. A partir daí, Santana disse que começou a pedir a Deus para ficar careta, pois precisava tocar, e que se Deus lhe desse essa graça, ele nunca mais tomaria outra mescla. No fim, ao sair do palco, perguntou ao produtor de Woodstock o que tinham achado, e ele falou: “Jimi Hendrix adorou!”.

Fomos até o estúdio para gravar uma entrevista para o making of do trabalho. Nesse momento, o empresário dele entrou, e eu disse que o Skank gostaria de retribuir o convite, o chamando para tocar no dia 21 de setembro no Rock in Rio. Ele falou para olhar na agenda, e disse que gostaria muito. Quando seu empresário conversava com ele sobre o show do dia seguinte na House of Blues, aconteceu o inesperado. Santana disse: “Vamos tocar a música juntos em meu show?”. E eu, para os dois: “Vocês estão falando sério?!”

Vocalista do Skank diz que encontro com Santana foi memorável e um presente de DeusArquivo pessoal / Samuel Rosa


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Quarta-feira 22.5.2013
Chegamos à House of Blues por volta das 16h e Santana estava ensaiando. Logo que me viu, avisou que iriam passar ‘Saideira’. Me apresentou à banda e começamos a tocar. Quando cantei ‘tem homem que vira macaco, mulher que vira freira’, Santana começou a andar imitando um macaco. Depois, se despediu, dizendo que me encontraria na hora do show.
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Por volta das 19h30, cheguei ao local e fui ao camarim, para Santana autografar minha guitarra. O show começou às 20h e ‘Saideira’ era a 11ª do roteiro. Quando chegou a hora, ele foi ao microfone, anunciou que um talentoso artista brasileiro estava ali e me chamou. A plateia, de 2 mil pessoas, entre eles apenas uns 30 brasileiros, aplaudiu minha entrada. Eu estava muito à vontade no palco e, quase no fim da música, começamos um duelo de guitarras. Quanta ousadia, no bom sentido! A partir daí, a música se transformou em uma jam, com trechos de ‘Exodus’, de Bob Marley, e ‘Walking On The Moon’, do The Police. Ao final, quando todos pensavam que Santana iria parar por ali, ele veio até meu ouvido e disse: “Canta uma música brasileira”. Após pensar rapidamente, esperei uma brecha e comecei a cantar ‘Mas Que Nada’, de Jorge Ben, fazendo toda a House of Blues entoar o coro: “Ôôôô, ariá raiô, obá, obá, obá”. O público levantou os braços, dançou e gritou. Aí, apareceu o Santana e surpreendeu a todos com um solo da música ‘Manhã de Carnaval’. Parei de tocar, fiquei olhando ele solar e comecei a fazer reverências ao maestro no palco. Quando acabou, me deu um abraço apertado. O público pediu mais um, mas o show seguiu seu curso normal. No fim, Santana, que sempre corre para o carro e parte para casa, me deu novamente um abraço e seguiu seu caminho.
Eu vi tudo isso com os olhos que essa terra há de comer. A célebre frase ‘o que acontece em Vegas, permanece em Vegas’ não vale para mim, porque o que aconteceu lá vai ficar na minha memória para sempre.
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