Rio - Planejamento e disciplina são fundamentais em quase todos os campos da vida. Sei que sem eles não se avança muito, seja na administração de uma grande corporação ou da casa da gente, ou até na educação de filhos. Mas tem um campo da vida da gente que, se planejar muito e usar muito a régua, corremos o risco deixá-la meio sem sal — o campo dos afetos e amores.
Planejar e idealizar a relação que queremos para nós é colocar o amor numa caixa.
Eu diria que o amor na caixa (seja caixinha de presente, caixa de sapato, caixa decorada ou caixinha de música) é aquele mais previsível, idealizado (porque nada é ideal, né?) quase que 100% traçado, arquitetado — como se fosse possível racionalizar essas coisas.
Uma caixa de desejos.
Geralmente, quando as pessoas estão num momento da vida em que querem encontrar alguém e se apaixonar, elas começam a desenhar internamente o que esperam e até inconscientemente buscam o perfil que elas criaram, como na busca do profissional que se encaixa melhor num determinado cargo.
Quando encontram alguém que preenche os requisitos idealizados, elas se apaixonam. Na verdade, se apaixonam por elas mesmas.
É o amor na caixa.
E quando aquela expectativa do par ideal é atropelada por algo ou alguém improvável e de algum modo fora daquele desenho inicial, que fazemos mentalmente?
Imaginem se envolver com uma pessoa que não atinge os seus pré-requisitos mentais ou o seu planejamento amoroso inicial?
Não falo aqui de ninguém tão absurdamente diferente. Falo tão somente de alguém que não se imaginou nem previu. Alguém improvável.
Seja pela personalidade que não tem nada a ver com a nossa, pela distância onde mora, pelo que faz, como se veste ou o que fala.
Seja pela cor, pela grana (muito mais ou muito menos do que esperamos), seja pela idade, pelo sexo ou pelo tamanho. Ou até mesmo pelas ideias e ideologia muito diferentes.
Sim, estou falando da improbabilidade do amor. Aquele amor entre duas pessoas que, por uma lógica psicossocial qualquer, ninguém espera que fiquem juntas.
Amor fora da caixa.
Aquele amor que rompe as barreiras da caixa que montamos internamente para nós mesmos. E que pode acabar se tornando uma de nossas melhores experiências.
O amor improvável, imprevisível, inesperado pode se tornar a melhor de todas as caixas de sua vida.
E, para quem já tem uma relação, não precisa procurar outra fora da caixa, não.
O amor que resiste ao tempo, às vezes, precisa sair da caixa também, para encontrar então um formato renovado, uma caixa nova.
Muitas vezes, vivemos uma relação numa caixa velha, desgastada pelo tempo.
Sem grandes planejamentos ou expectativas, talvez seja bom romper, rasgar a caixinha e recomeçar tudo livremente, construindo outra diferente ou igual, mas nova ou renovada.
O amor, velho ou novo, não deve perder nunca o tempero da imprevisibilidade.
Pensemos o amor fora da caixa. Nosso melhor presente.