Por tabata.uchoa

Rio - Foi em 1947 que Henrique Foreis Domingues, o Almirante, um gigante do rádio brasileiro e pesquisador fundamental da nossa música, iniciou a série de programas radiofônicos de maior sucesso da história do rádio tupiniquim. O título do babado já era de assustar até o mais cético dos homens: ‘Incrível! Fantástico! Extraordinário!’

Durante 11 anos, Almirante apavorou, pelas ondas da rádio Tupi, milhões de brasileiros com relatos sobrenaturais enviados por ouvintes do país inteiro. Como anunciava o comunicador, eram casos verídicos de terror e assombração. Tinha de tudo: operação espiritual, morto cumprindo ameaça, milhar sinistra no jogo do bicho, violino do além, caminhão fantasma, entrevista fúnebre, fenômenos de levitação, bloco carnavalesco com uma bateria inteira de desencarnados, agradecimento da noiva morta, urubu aziago, cachorro morto que insistia em ficar latindo perto do dono e o escambau.

O programa começava com a voz imponente de Almirante anunciando o teor da história macabra. Algumas eram tão assombrosas que causavam crises histéricas em pessoas mais impressionáveis. Há registros de ouvintes que sofriam ataques cardíacos no meio dos relatos.

Imaginem a cena da família reunida em volta do rádio na hora do programa começar. Após a vinheta, Almirante anunciava a síntese da história que seria contada:

— Alguns espíritos podem aparecer para os vivos sob a forma de animais apavorantes. Mas isso não é regra, e a prova está no relato que segue.

— Alguns médicos continuam a exercer sua profissão mesmo depois de mortos.

— O que você faria se alguém lhe pedisse carona na porta de um cemitério?

— Na capelinha abandonada, todas as velas estavam acesas e uma missa estava sendo rezada.

— Depois de fazer um pedido ao escoteiro, a moça de branco desapareceu, como que diluída no ar.

Nos onze anos em que o programa foi ao ar, ocorreram três casos de suicídios cometidos por ouvintes após as narrações fantasmagóricas. Crianças não dormiam mais no escuro; estudantes não iam sozinhos aos banheiros dos colégios; taxistas tinham receio de pegar passageiros em portas de cemitérios. Um presidente da República, Café Filho, confessou que tinha medo de ligar o rádio quando estava sozinho.

Os fantasmas do ‘Incrível! Fantástico! Extraordinário!’ moldaram a imaginação dos meus avós e pais. A voz de Almirante é uma daquelas que construíram o Brasil e precisam ser lembradas. Como diria, afinal, o próprio radialista: alguém duvida que os mortos falem?

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