Por tabata.uchoa
Cristina Campos começou fazendo bolo para presentear os amigos e hoje vende sua produçãoAlessandro Costa / Agência O Dia

Rio - ‘Pensei muito se devia fugir do chocolate, mas acabei me rendendo à tradição! Para a Páscoa, preparei um brownie com cobertura de Nutella, que é uma perdição! Esse vai ser meu presente de Páscoa pra minha família”, conta a roteirista Cristina Campos, que sempre adorou presentear parentes e amigos com delícias que ela mesma prepara.

“Amo fazer bolos e isso vem da minha infância, quando gostava de ajudar minha mãe. Já adulta, comecei a presentear meus amigos com meus bolos. Para cada um eu escolhia um sabor, pensava no que a pessoa iria gostar e fazia. Aí, um amigo começou a pedir bolo para presentear outra pessoa e por aí foi”, conta a roteirista, que, por sugestão do filho mais velho, acabou transformando a paixão em plano B e hoje engorda o orçamento com a venda de seus quitutes.

As delícias, aliás, saíram do velho caderninho de receitas, de folhas amareladas, que já soma 30 anos. “Cada receita tem, ao lado, o nome da pessoa que me passou e, muitas vezes, o ano e a situação em que experimentei aquele prato. É assim também com as receitas de bolo. São de família, tradicionais. Quando eu faço, além de me divertir, eu sei o que coloco nele”, diz Cristina.

Para Hilaine Yaccoub, antropóloga e professora de Ciências do Consumo da Escola Superior de Propaganda e Marketing Rio, a tendência é mesmo a retomada do artesanal. “Quer mais luxo do que ter ou ganhar um produto feito exclusivamente para você? Este é o conceito com o qual as marcas de luxo trabalham. Hoje, sabemos que luxo não é valor, é exclusividade”, afirma. A professora destaca, ainda, as esferas psicológica e social do presente personalizado.

“Um presente é a objetificação das emoções. Com ele, você entrega suas emoções, seu carinho, sua atenção, dizendo que o outro é importante para você. É, também, quitar uma dívida social, na medida em que aquele que presenteia corresponde a certos anseios da sociedade, como retribuir — seja amor, gratidão ou outro presente”, explica a antropóloga.

Hilaine ressalta que também está embutida nesta conta a questão do custo-benefício. “A busca por economia, de dinheiro e de tempo também influencia bastante na volta ao manual. Hoje, o consumidor está muito consciente do seu trabalho e do seu tempo. E se ele gasta parte disso produzindo algo para si ou para o outro, esse produto tem um valor agregado muito maior do que os da prateleira”, avalia.

As sócias Marcella Marizot e Anna Paula Bokel também são adeptas do faça-você-mesmo e, claro, vão presentear suas famílias com ovos de Páscoa feitos por elas. “Sempre me incomodou essa questão de comida industrializada. Meu avô tinha uma fazenda em Teresópolis e eu só convivia com produtos frescos. Os ovos chegam ainda quentes na cozinha. Isso é legal, saber o que se está comendo”, diz Marcella que, junto com Ana Paula e mais três ajudantes, está a todo vapor na produção de 600 ovos artesanais.

Calma! Não se trata de produção em massa para presentear uma família gigante, em todos os graus de parentesco. É que as duas acabaram transformando o gosto pela produção manual em negócio. Hoje, são donas da confeitaria Fazendo Doce, de onde só saem tortas, bolos, biscoitos brownies e ovos de páscoa artesanais. “Na nossa cozinha não tem uma máquina. É tudo feito à mão. Só temos batedeira. O mesmo que fazemos em nossas casas, fazemos aqui”, diz Anna Paula.

Já que a Páscoa está batendo à porta, Marcella e Anna Paula, incentivadoras do faça-você-mesmo, ensinam a preparar o próprio ovo de Páscoa (veja boxe). Mais exclusivo, impossível.

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