Por daniela.lima

Rio - Alto e dono de um registro de voz grave e imponente, o maestro Rildo Hora é daquelas pessoas que, mesmo primando pela discrição, chamam a atenção por onde passam. Baixinhos perto de Rildo, Xande de Pilares e Dudu Nobre ouvem atentamente as dicas do maestro sobre os vocais de um dos maiores clássicos do samba, ‘É Luxo Só’.

Arlindo Cruz e Dudu Nobre ouvem as dicas do maestro Rildo Hora durante o ensaio no estúdio Floresta%2C no Cosme VelhoJoão Laet / Agência O Dia


A canção de Ary Barroso e Luiz Peixoto é uma das músicas que a dupla ensaia no estúdio Floresta, no Cosme Velho, para a 25ª edição do Prêmio da Música Brasileira, que acontece amanhã no Theatro Municipal do Rio de Janeiro (com direito a mais dois shows por lá na quinta e na sexta). Dudu e Xande trançam vozes com a do maestro, que tira dúvidas dos dois nas letras e os ajuda a entrar no clima da música que já foi gravada por Elizeth Cardoso e Gal Costa.

A nova edição é a primeira em que um gênero musical — o samba — é homenageado, e não um artista. A comemoração tem consultoria de Beth Carvalho e reúne nomes como Baby do Brasil, Maria Bethânia e Paulinho da Viola, lembrando clássicos do estilo. Nomes como Xande de Pilares, Arlindo Cruz, Dudu Nobre, Almir Guineto, Zeca Pagodinho e até a internacional Angélique Kidjo sobem ao palco, em duos ou trios. Além dos dois shows do Rio, a turnê passa por São Luís (MA), dia 20; Belém (PA), dia 22; Parauapebas (PA), dia 25; Belo Horizonte (MG), dia 28; Vitória (ES), dia 31; e Corumbá (MS), dia 3 de junho.

O repertório traz lembranças a Dudu e Xande. “Eu e Dudu cantamos agora no ensaio ‘Me Deixa Em Paz’ (Monsueto) e essa música me traz lembranças da época em que a gente levava as meninas para dançar de rosto colado nos bailes. Hoje ninguém mais dança assim, né?”, brinca Xande, hoje um ex-Revelação, que cantou ‘Do Jeito Que A Vida Quer’, de Benito di Paula, no ensaio. “É uma música em homenagem ao (sambista) Ataulfo Alves (1909-1969). O grande prêmio que o samba recebeu foi ser homenageado nessa premiação. É a prova de que todos aqueles sambistas que foram perseguidos pela polícia estavam certos.”

No ensaio, Dudu Nobre soltou a voz em ‘Do Fundo do Nosso Quintal’, do Fundo de Quintal, e em músicas que ele mesmo compôs para Zeca Pagodinho, como ‘Vou Botar Seu Nome na Macumba’ e ‘Quem É Ela’. “Algumas músicas eu nem me lembrava mais! O bom é que o repertório sai daquele lugar comum das músicas que sempre são cantadas”, alegra-se.

Arlindo Cruz, mestre dos dois, chega mais tarde e é reverenciado pelos músicos presentes — gente como Lula Galvão (violão), Jorge Helder (baixo) e os percussionistas Pretinho da Serrinha, Adilson Didao, Nene Brown e Jorge Quininho. Músicas como ‘Vai Vadiar’ (do repertório de Zeca Pagodinho) e ‘Pedi Ao Céu’ (do repertório de Beth Carvalho) estão previstas para serem cantadas por ele. Arlindo é daqueles que vê um sambista em cada músico brasileiro.

“Nem que ele seja roqueiro ou erudito, todo músico brasileiro um dia vai cantar um samba, pô. Todo mundo tem um samba na trilha sonora da vida”, teoriza. “E tem mais: o samba vai começar um novo ciclo. Esse ano é o samba 1, e ano que vem tem o samba 2”, brinca, profético, lembrando as entrevistas viajantes de Tim Maia.

Em meio aos ensaios, Xande continua seguindo a agenda do seu ex-grupo Revelação, e se prepara para cantar solo. “Eu cantava sozinho quando trabalhava na noite. Mas a princípio dá medo, porque não é a mesma coisa. O importante é dar continuidade ao trabalho e botar a mão na massa. E isso a gente sabe fazer porque aprendemos juntos!”, conta ele, saudando a entrada de Almirzinho, filho de Almir Guineto, para os vocais do grupo. Os dois são amigos.

“Quando ele fazia o pagode na Barraca do Louro, no Salgueiro, eu o substituí lá”, recorda. “Quando estivemos no Carnaval de Salvador, ele estava no trio com a gente e ia para o meu lugar quando eu precisava ir ao banheiro. Almirzinho tem história com o Revelação e não está lá à toa. Vai tirar a onda dele.”

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