Por daniela.lima
Luis Pimentel%3A Questão de OpiniãesDivulgação

Rio - Acho que essa é de Voltaire: “Não concordo com tuas palavras, mas defendo o teu direito de dizê­las.” Essa aqui, com certeza, ouvi em mesa de bar: “Melhor escutar essas bobagens do que ser surdo.” É isso o que tem faltado na imprensa, nas redes sociais e até nos papos de boteco: tolerância para com a opinião alheia, seja quanto a ideais políticos, paixões futebolísticas ou religião. O bom de ter opinião formada é poder deformá­la na hora que quiser.

Né não?
“A literatura me levou ao Colégio Militar. Foi esse colégio que me levou à literatura”, disse numa entrevista o peruano Mario Vargas Llosa.O grande escritor contava que o pai, assustado com os seus interesses lúdicos e pouco viris, temia que o filho, dados às artes e à poesia, se tornasse gay. Resolveu interná­lo em ambiente onde prevaleciam o excesso de disciplina e a ausência absoluta de liberdade. Para combatê­los, o hoje Prêmio Nobel escrevia sem parar. O tiro de canhão saiu pela culatra (ou “culetra”, com o pedido de perdão pelo trocadilho infame).

Lembra­me um pouco a história (ou anedota) do Serginho, que quando menino vivia desenhando e costurando lindos vestidinhos de boneca. Os pais não permitiam, porque “desenhar e costurar vestidos era coisa de gay”. Na adolescência, Serginho queria ser bailarino. “Nem pensar! Isso é coisa de gay.” O mesmo disseram mais tarde , quando ele falou que queria fazer um curso para ser cabeleireiro. Resultado: hoje Serginho tem mais de 30 anos, é gay, e não tem uma profissão sequer para se sustentar. A razão é simples: nada é só isto ou só aquilo, porque, como descobriu o inquieto Menino Maluquinho, do nosso Ziraldo, “todo lado tem dois lados”. Livro infantil que publiquei há algum tempo, chamado ‘História de Dois Lados’, tem um verso que diz: “Esta história tem dois lados: um que aponta prum lado, outro que aponta pro outro/ O lado direito é destro, o lado esquerdo é canhoto”. Falando para crianças numa escola que o adotou, ouvi essa pergunta:

— Mas o lado esquerdo também pode ser destro e o direito ser canhoto. Não?
Fiquei olhando para o menininho, que olhava para mim com a maior cara de sacana, expressão de “agora te peguei”, e respondi o que me veio à cabeça na hora:
— Acho que sim, cara. Depende do ângulo de quem está olhando.

Daí, formulei mais uma tese na vida. A de que tudo no mundo depende do olhar, ou da intenção de quem está olhando (sejam os pais do Vargas Llosa, do Serginho ou do leitor do Maluquinho). E me lembrei de Guimarães Rosa, matutando pelas veredas de seu ‘Grande Sertão’: “Pão ou pães, é questão de opiniães...”
Pois e não é?

Você pode gostar