Por daniela.lima

Rio - A cada filme, o diretor Karim Aïnouz refina mais e mais sua linguagem. Wagner Moura não precisa provar mais nada para ninguém: é dos melhores atores em atividade. E o jovem talento Jesuíta Barbosa já não é mais uma promessa, é de fato dos melhores da nova geração. A trinca estreia hoje ‘Praia do Futuro’. A trama simples pode ser resumida assim: arrimo de família que sustenta a mãe e o irmão Ayrton (Jesuíta), o salva-vidas Donato (Moura) tem sua rotina transformada ao salvar Konrad, um turista alemão (Clemens Schick) de afogamento. Os dois homens se envolvem, e Donato abandona o país para viver um amor até então nunca permitido.

Donato (Wagner Moura) é um salva-vidas que larga sua rotina e família para viver um grande amorDivulgação


Karim constrói arquitetonicamente um cinema de contrastes e repetição de elementos: o caos em oposição à vontade de ordem do homem. No meio disso, a força da natureza em assimetria à fragilidade humana. Em ‘Abismo Prateado’, seu filme anterior, Alessandra Negrini, em meio aos escombros de um relacionamento, buscava o marido no canteiro de obras de um edifício. Em ‘Praia do Futuro’, estruturas eólicas são pano de fundo para um mar e uma paixão destruidores dos quais Donato busca fugir. Karim enfatiza que toda construção é precedida da destruição do que havia antes.

O belo rigor formal do cineasta neste drama peca pela quase ausência de diálogos e elipses temporais que esfriam justamente aquilo que ele quer indomável: o desejo. Clemens Schick também não ajuda. ‘Praia do Futuro’ é um filme de, para e sobre homens. Mas também sobre escolhas, impermanência e a primazia do desejo sobre preconceitos.

Reportagem: Roni Filgueiras

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