Por daniela.lima
Luiz Antonio Simas%3A Das antigasNei Lima / Agência O Dia

Rio - Outro dia, ao conversar com um jovem que devia ter lá os seus 16 anos, terminei o bate-papo com uma expressão que me pareceu óbvia: chuchu beleza. O garoto, todavia, me olhou como se eu fosse uma pintura rupestre do Parque da Serra da Capivara; verdadeiro registro ambulante das origens do homem americano. 

Admito que uso mesmo algumas expressões mais fora de moda que o sapato cavalo de aço, o terno linho S-120, o corte de cabelo Príncipe Valente, o conga azul, o bamba branco e o kichute — calçados que marcaram a infância de muitos garotos da minha geração.

Sou daqueles que ainda falam “isso é mamão com açúcar”, para definir as coisas fáceis; “virou coqueluche”, para dizer que algo virou moda; “cafundó do Judas” e “beleléu”, como referências a um lugar distante, e “passar a batata quente”, como o ato de jogar o problema nas mãos de outra pessoa. Homem bonito é um pão, moça bonita é um pitéu e jovens cheios de borogodó são brotos. Exclamo “barbaridade” quando me espanto, chamo minha turma de “patota” e costumo dizer não a alguns pedidos com a sentença inapelável: “Nem que a vaca tussa!”

As expressões hoje me parecem menos inventivas. Gosto das sonoridades da minha infância, cheia de exclamações retumbantes para definir atos simples. Lembro-me do meu avô falando do fulano, cheio dos salamaleques, que deu uma de mandrake, botou dez no veado e ficou com a cor de burro quando foge ao ser flagrado com a boca na botija.

Mas esse arrazoado serve para que eu divida com os amigos uma revelação. Lendo o Dicionário da Hinterlândia Carioca, livro do mestre Nei Lopes sobre as coisas do subúrbio, deparei-me com um verbete sobre bola de gude. Qualquer um que já carambolou bolas cacarecadas sabe que o grito de guerra que caracteriza o jogo é o “marraio, feridô, sou rei”. O que eu nunca soube é que diabos significa exatamente este feridô.

Pois Nei Lopes diz, para me deixar maravilhado, que uma das hipóteses para a expressão é a seguinte: ela se refere a certo “Phillidor”, famoso enxadrista francês que, no século XVIII, era especialista em matar as partidas com xeques-mates fulminantes. Ainda que a versão não seja comprovada como pule de dez, a simples hipótese de o francês designar um grito de guerra dos meninos que jogam bola de gude me leva a imaginar coisas do arco da velha.

Ando até pensando em tirar as bolas de gude do fundo da gaveta para gritar, às antigas, o lema que na minha infância foi mais relevante que qualquer independência ou morte.

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