Rio - Local de encontros políticos memoráveis, nos tempos da ditadura, o Teatro Oi Casa Grande volta a abrir suas portas para os debates democráticos. Batizado por Tancredo Neves como “Território livre da democracia”, o espaço mantém sua tradição ao servir de palco para o primeiro debate entre os candidatos ao governo do Rio de Janeiro — Anthony Garotinho (PR), Luiz Fernando Pezão (PMDB), Lindberg Farias (PT), Marcelo Crivela (PRB) e Tarcisio Motta (PSOL) —, no próximo dia 14, às 22h, promovido pela Band Rio, que transmite ao vivo.
“Vai ser um acontecimento à altura da história do teatro. A Band nos procurou e, como sempre estamos abertos para as questões políticas que envolvem o país, não tinha como não aceitar”, comemora Moysés Ajhaenblat, um dos fundadores, que permanece à frente do teatro junto com o empresário Luís Calainho.
O Casa Grande foi inaugurado em 25 de agosto de 1966 por Moysés, Max Haus, Moisés Fuks e Sergio Cabral. O nome foi uma homenagem ao livro do sociólogo Gilberto Freyre, ‘Casa Grande & Senzala’, já que o teatro era vizinho, na época, da favela Praia do Pinto. Nos primeiros anos, passaram pelo palco grandes nomes da música popular brasileira, como Chico Buarque, Elis Regina, Tom Jobim, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa e Maria Bethânia, entre outros. Mas foi durante a ditadura que o Casa Grande ganhou a fama de espaço democrático.
Em 1974, após anos de proibição, o teatro realizou a primeira reunião política aberta do país. Depois, vieram vários outros ciclos de debates sobre cultura, arte, política e até economia, em 1976, com a participação de Lula, então metalúrgico e sindicalista. “Fazíamos muitas reuniões. Naquela época, o teatro tinha 700 lugares. Apesar de cobrarmos ingresso, ficava lotado, com mais de 1.200 pessoas. Tinha gente que pagava, mas não entrava. Acompanhava os debates pelas caixas de som que colocávamos na calçada”, conta Moysés.
Foi no Casa Grande, no início dos anos 80, que Tancredo Neves se reuniu com artistas, intelectuais e políticos e esboçou o movimento Diretas Já!. No mesmo local, em 1985, o então ministro da Justiça Fernando Lyra anunciou o fim da censura.
Até a presidenta Dilma Rousseff recorreu ao espaço em plena campanha em 2010. Foi lá que a então candidata à presidência recebeu apoio da classe artística. “Ela não estava bem, mas houve uma virada com o debate. Tinha mais de 5 mil pessoas dentro e fora do teatro”, lembra Moysés.
Para o diretor de jornalismo da Band Rio, Rodolfo Schneider, o teatro é ideal por sua tradição para o debate entre os candidatos ao governo do Rio. É a primeira vez em 18 anos que o evento será feito fora dos estúdios da emissora. “Vamos levar um formato inovador, com a participação do público, mas com equilíbrio e isenção”, diz. O espectador vai poder mandar perguntas pelo Twitter. Haverá ainda um bloco temático com questões selecionadas pelo WhatsApp.






