Por karilayn.areias

Rio - A casa de espetáculos Vivo Rio recebeu na noite da última sexta-feira o show Linha de Frente que marca o encontro de dois artistas sui generis da música brasileira. Milton Nascimento e Criolo dividiram o palco de maneira generosa, respeitando a individualidade musical um do outro, promovendo o encontro da explosão com a delicadeza, da dureza da realidade com a ternura da esperança que retratam nas canções que escrevem e cantam.

Criolo e Milton Nascimento se apresentaram no Vivo Rio na última sexta-feiraAgNews

Coube a Milton iniciar os trabalhos com a belíssima canção ‘A Terceira Margem do Rio’, dele e de Caetano Veloso. Logo em seguida, Bituca tirou da cartola, ou melhor, da velha boina, um clássico de Dorival Caymmi: ‘O vento’.

Criolo tomou a frente do palco com a afiada Mariô. A plateia, que já acompanhava cantando junto as músicas levadas por Milton, passou a acompanhar em voz alta as estrofes difíceis pela velocidade e letras repletas de gírias que o rapper avisa odiar explicar. O público se rendeu de vez quando os dois cantaram juntos a música ‘O Que Será’ de Chico Buarque. Amigo de Milton e um dos primeiros consagrados da MPB a reverenciar o talento de Criolo, o Sr. Buarque de Holanda é, sem dúvida, um elo na carreira dos dois artistas. Chico ainda se fez novamente presente em uma das mais lindas composições da música brasileira ‘O Cio da Terra’.

Em um momento lúdico do show, Milton tocou uma pequena sanfona velha dada pela mãe quando ele tinha apenas seis anos para tocar e cantar Ponta de Areia, o público acompanhou em um silêncio respeitoso o esforço do artista e tocar o instrumento mesmo sem sustenidos nem bemóis.

A noite ainda reservou a grata surpresa de uma jovem cantora. Milton, que nos últimos anos tem revelado talentos (foi ele quem trouxe para os grandes palcos uma filha de uma tal Elis Regina chamada Maria Rita) apresentou na noite carioca a bela voz de Julia Vargas. Milton e Júlia dividiram os vocais em ‘Cravo e Canela’ e a sublime ‘Me deixa Em Paz’, canção de Ayrton Amorim e um dos maiores êxitos do repertório de Alaíde Costa.

Mas a grande surpresa da noite foi quando Milton passou a dividir os vocais com Criolo nas composições do artista paulista. Letras como a de 'Nó na Orelha', que poderiam causar estranhamento, desceram fácil na voz do cantor do Clube da Esquina. A interpretação de Milton em ‘Freguês da Meia-Noite’ com a mão na cintura foi uma graça. A escorregada de Bituca ao errar a letra de 'Não existe Amor em SP' foi coberta de aplausos pelo público e pelo carinho por Criolo ao definir o companheiro de palco como “um acontecimento”.

O show foi encerrado em alto nível com as imbatíveis, ‘Fé Cega, Faca Amolada’ e ‘Bogotá’ que provocaram, ainda que timidamente, o levantar da cadeira de algumas pessoas para dançar. Criolo e Milton ainda voltaram ao palco. O paulista entrou em cena primeiro para levar o rap feito a partir do hino ‘Cálice’, de Chico e de um Milton que veio logo em seguida para entoar a versão original. Uma noite primorosa.

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