Rio - Morando há dois anos na Áustria, o fotógrafo carioca Luiz Lima se depara a cada dia com experiências diferentes, que usa como material para o seu trabalho. Ele já teve a oportunidade de fotografar um carnaval de demônios, o Perchtenlaufen, que acontece perto do Natal.

"São grupos como se fossem os bate-bolas, no Rio, e que saem em desfiles. São fantasias demoníacas mas que não representam apenas o mal. Além de um evento festivo, tem explicações, como a história de que os Perchten (deuses pagãos locais) espantam o inverno rigoroso que atrapalhava a colheita. Estou fazendo um série de fotos de tempo em tempo sobre este acontecimento", relata Luiz que, por lá, relança seu segundo livro, 'Contos Fotográficos' (publicado no Brasil pela editora Multifoco) no evento Festival Cultural do Brasil em Viena 2014, a ser realizado entre 17 e 19 de outubro.
Curiosamente não há imagem alguma no livro. "Seria normal esperar tivesse fotografias. Mas desde que vim morar aqui na Áustria, vivi dois momentos. Um deles era o encantamento de estar num país novo e o outro era lembrar das histórias da minha vida. Sempre contava algo relacionado à minha atuação ou a das outras pessoas, e resolvi escrever isso para não esquecer", conta Luiz, que adoraria ver alguém fazendo um filme sobre os contos e até incentiva isso no texto da contracapa. "Tem histórias que vivenciei que são hilárias e outras mais sérias! E é interessante isso de alguém retrabalhar algo feito em fotografia. Imagina uma série de TV ou uma websérie?".
A mudança de país poderia ser um grande obstáculo. Luiz compensa sempre correndo atrás de novos trabalhos. "É difícil como em qualquer lugar", brinca. "Já tenho dois trabalhos novos em desenvolvimento com pessoas daqui, como um documentário escrito entre eu a cineasta aqui da Áustria, Bárbara Windtner, sobre fotógrafos. Além de outro trabalho em conjunto, chamado 'Spilt Album' comigo e com o fotógrafo Daniel Shaked, que já esta em andamento".
Luiz começou a se envolver com fotografia aos 18 anos, fazendo vários cursos. "No primeiro deles, exigiram que eu tivesse câmera e eu não tinha. Enganei o professor e a direção do curso até o final, aí consegui pegar uma câmera emprestada de um amigo, apenas para fazer o trabalho final do curso", brinca. Se em seu primeiro livro, 'Rodas' (que chegou a ser lançado na Finlândia), Luiz reuniu 77 imagens dos encontros musicais cariocas realizados ao som de samba, os ares austríacos influenciam seu próximo trabalho.
"Tem um maestro brasileiro que atua aqui chamado Vinicius Kattah, e que está me ajudando a conhecer melhor sobre o universo da música clássica. Estou fazendo um projeto pessoal com estilos musicais distintos e pretendo mostrar isso em livros de fotografia. Vão ser quatro livros, uma tetralogia, e o segundo será esse", adianta o fotógrafo, vivendo um sonho que tinha desde a infância. "Que é o de sensibilizar as pessoas para outros universos da vida. Levo os livros sobre rodas de samba para algumas pessoas e elas não têm ideia do que é aquilo, por exemplo".