Por daniela.lima
Ricardo Cota%3A Adolf Hitler%2C o cinéfilo do malDivulgação

Rio - Sim, é verdade, Adolf Hitler, ele mesmo, era um cinéfilo. Nos anos anteriores à Segunda Guerra Mundial, o Führer dedicava-se toda a noite a assistir a um filme junto com seus asseclas. Não apenas via como também comentava os filmes, exercendo pobremente a função de crítico classificando-os em três categorias: “Bom”, “Ruim” ou “Desligado”. Esta última era aplicada a filmes que Hitler não tolerava ver até o final.

As análises, sempre autoritárias, partiam do princípio de os filmes atenderem ou não aos ideais nacional-socialistas preconizados pelo nazismo, o que proporcionava verdadeiros absurdos de avaliação. O liberal ‘A Mulher Faz o Homem’, de Frank Capra, segundo sua avaliação, era um filme que se enquadrava perfeitamente às teses autoritárias por mostrar uma liderança genuína que nascia de raízes populares para combater os desvios do capitalismo. Já ‘King Kong’ e ‘Tarzan’, este vetado para a exibição pelo nazismo, eram ruins por, reciprocamente, mostrarem uma loura sucumbindo a um animal selvagem e um homem de instintos nobres criados na selva, o que era inadmissível. Atores também eram alvos de suas críticas, como Marlene Dietrich, que pecava por fazer “muitos papéis de prostitutas”.

Tudo isso e muito mais pode ser conferido no livro ‘A Colaboração’, de Ben Urwand editado pela Leya. Historiador australiano, Ben vasculhou arquivos na Alemanha e nos Estados Unidos para mostrar como até 1939 as opiniões dos oficiais nazistas influenciaram decisões em Hollywood. A colaboração do título se refere à submissão dos estúdios às críticas de Hitler e de sua burocracia cultural. A revelação é impactante. Por o mercado alemão ser extremamente lucrativo, os magnatas hollywoodianos esticaram a corda ao máximo para atender exigências estapafúrdias, como promover cortes e até mesmo vetarem na raiz roteiros que poderiam trazer mal-estar aos alemães.

‘A Colaboração’ chegou a ter proibida sua veiculação nos EUA. Mas o espírito democrático venceu e a pesquisa de inestimável valor chegou às livrarias. Trata-se de uma obra fundamental para mostrar a inviável combinação entre liberdade artística e regimes ditatoriais. O bom é saber que, quando termina a nefasta colaboração, em 1940, a mesma América já abrigava os grandes artistas alemães e judeus que fugiram do Reich e escreveram, aí sim, muitas das melhores páginas do cinema norte-americano.

AÇÃO!
* Um bom complemento à leitura de ‘A Colaboração’, é a mostra ‘Fritz Lang — O Horror Está no Ar’ em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil. Segunda-feira, às 19h30 será exibido ‘O Homem que quis Matar Hitler’, de 1941. Lang era austríaco, escreveu uma das mais importantes páginas do cinema alemão nos anos 20 e se erradicou nos EUA fugindo do nazismo. Rodado nos Estados Unidos, ‘O Homem’ é um dos primeiros do período pós-colaboração. Imperdível.

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