Rio - O mexicano Guillermo Arriaga é da boa safra do cinema atual. Roteirista de filmes como ‘Amores Brutos’ (2000), ‘21 Gramas’ (2003) e ‘Babel’ (2006), Arriaga carrega adjetivos de combinação, no mínimo, interessante, que ele mesmo faz questão de enumerar: “Ateu, anarquista e otimista compulsivo.” E gosta tanto do Rio que, se não morasse no México, viveria aqui.

“Adoro essa cidade, sua gente, sua beleza. Sou carioca”, disse, em bom português, o cineasta, que está no Brasil para exibir ‘Falando com Deuses’ no Festival de Cinema do Rio (a próxima sessão acontece segunda-feira, no Estação Ipanema). O filme é uma reunião de nove curtas-metragens, assinados por diretores de vários cantos do mundo, incluindo o próprio Arriaga. Todos tratam do mesmo tema: a religiosidade ou a ausência dela.
“As religiões me preocupam, porque, muitas vezes, podem ser desculpa para negação e intolerância. Minha ideia com esse projeto é mostrar que precisamos aprender a dialogar, ter tolerância, não distanciamento”, explica o mexicano, cujo projeto, na verdade, é uma tetralogia, que vai tocar em temas espinhosos. “Acredito que agora, com a globalização, podemos tratar de assuntos antes tidos com tabus. Quis falar sobre temas que causam brigas”, conta Arriaga, que elegeu, além de religião, os assuntos sexo, política e drogas, que serão apresentados nesta sequência. “Ainda não sei quando será lançado o próximo filme. O que posso adiantar é que serão outros diretores.”
Para ‘Falando com Deuses’, Arriaga convidou o espanhol Álex de la Iglesia (‘Balada do Amor e do Ódio’), o iraniano Bahman Ghobadi (‘Antes da Lua Cheia’), o israelense Amos Gitai (‘Ana Arabia’), o sérvio Emir Kusturica (‘Zanet’), a indiana Mira Nair (‘O Relutante Fundamentalista’), o japonês Hideo Nakata (‘O Chamado’), o australiano Warwick Thornton (‘The Darkside’), além do argentino radicado no Brasil Hector Babenco (‘Pixote, A Lei do Mais Fraco’), que estava afastado do cinema desde 2007. Eles tratam de catolicismo, islamismo, judaísmo, cristianismo ortodoxo, hinduísmo, budismo, espiritismo e umbanda, respectivamente. No elenco, nomes como Demián Bichir, Emilio Echevarría e os brasileiros Barbara Paz e Chico Díaz.
E, no filme sobre religiões, coube ao ateu abordar a falta dela, numa história surpreendente. “Eu queria uma posição ambígua sobre o ateísmo. Foi isso que fiz”, disse o roteirista, que, enquanto “otimista compulsivo”, gosta de escrever sobre pessoas que vão em frente mesmo estando à beira do abismo. “E nem sempre é a fé que move as pessoas. Muita gente está perdida, precisando de uma direção para entender melhor o mundo. Esse direcionamento pode vir ou não da religião. Em tempos de caos, a gente precisa de uma coisa sólida. Mas importante é que as pessoas mantenham o diálogo e conheçam outra visão do mundo que não a sua própria”, finaliza.