Por karilayn.areias

Rio - Além de ser filho de uma lenda da música, o cantor e saxofonista nigeriano Seun Kuti carrega outra responsabilidade: ele herdou a banda que acompanhava seu pai, Fela Kuti, criador do afrobeat e morto em 1997. É com ela, a Egypt 80, que o artista de 31 anos se apresenta amanhã no Circo Voador, na turnê do recém-lançado disco ‘A Long Way To the Beginning’.
“Para mim, eles não são só uma banda, eles são uma instituição musical. São alguns dos melhores instrumentistas. Eu comecei a cantar com eles quando tinha 14 anos, então tenho pouco tempo de estrada comparado a eles. Meu baterista tem 65 anos, o guitarrista tem 60”, conta Seun.

Essa é a segunda vez do artista no país — em 2010, ele se apresentou no festival ‘Back2Black’ — e Seun encontra similaridades entre a cultura brasileira e a de seu povo. “Em Salvador, vejo muitas coisas em comum com a cultura iorubá, que é a minha. Porque os países da África não representam o povo africano”, explica o politizado Seun, referindo-se à criação artificial de países em seu continente pelos colonizadores europeus.

Ativista social, ele reclama que muitos dos problemas criticados pelo pai (que foi preso diversas vezes, junto de seus músicos e mulheres, e teve a casa incendiada) ainda existam na Nigéria e no continente africano em geral. “OK, hoje somos uma democracia, isso melhorou. Mas para o homem comum, do povo, que é para quem eu canto, as coisas não estão boas ainda”, critica.

Pai da bebezinha Ifafunmike, nascida em dezembro do ano passado, ele diz que a paternidade só o faz lutar ainda mais por um mundo mais justo. “Agora não se trata só de mim, eu tenho uma filha. Isso me faz mais apaixonado pela causa. Você sente vontade de trabalhar ainda mais forte.”

E Seun comemora o interesse das novas gerações pelo afrobeat e por seu pai. “Não é só a música, é também a mensagem que interessa a eles. E ela é fundamental para as mudanças que buscamos na sociedade. Adoro que as novas gerações entendam exatamente o que o afrobeat expressa.”

Por sinal, ele assistiu ao documentário ‘Procurando Fela’, do vencedor do Oscar Alex Gibney, que participa do Festival do Rio e será exibido amanhã, no Estação Rio, e segunda-feira, no Centro Cultural Banco do Brasil. “É um bom filme, acho que quem o vê descobre aspectos menos conhecidos sobre o Fela”, comenta Seun.

Você pode gostar