Por nicolas.satriano

Rio - O Brasil vivia em 1939, durante a ditadura Vargas, uma guerra das pomadas contra assaduras que acabou se transformando em um embate cívico. Os fãs da pomada Minâncora consideravam a Hipoglós, recém-chegada da Europa, uma farsa. A Minâncora — brasileira e atuante no mercado desde 1915 — não se limitava a eliminar assaduras. Servia para acabar com espinhas, frieiras (as sinistras tinhas do pé), chulés e o futum nas axilas; o popular cecê.

Para angariar a simpatia do povo nessa que foi uma das primeiras batalhas entre marcas da época contemporânea, a Hipoglós promoveu o concurso para escolher um bebê que representasse os atributos do medicamento: a criança, entre zero e dois anos, robusta, feliz e livre de assaduras. A vitoriosa teria direito a um fim de semana no Grande Hotel de Lambari, duas mil e quinhentas fraldas, fornecimento da pomada até completar cinco anos de idade e seria o “bebê propaganda” da pomada em revistas e jornais.

Mais de onze mil bebês foram inscritos no concurso. Cento e cinquenta foram selecionados para a final e, depois de acirrada disputa, um júri de especialistas em assaduras, políticos influentes e artistas do rádio escolheu o bebê maranhense Getúlio Vargas Ribamar de Almeida, de oito meses e impressionantes nove quilos.

A cerimônia de premiação ocorreu nos jardins do Palácio Guanabara, com a presença da banda do Corpo de Bombeiros. Getúlio Vargas fez na ocasião um de seus discursos mais famosos, propondo a conciliação entre os fãs das duas pomadas, saudando a Minâncora como orgulho nacional e a chegada da Hipoglós como um reconhecimento do mundo ao potencial de crescimento da nação. Chamou ainda os bebês de futuros trabalhadores do Brasil.

Ao final da premiação — que teve como ápice o momento em que o cantor Francisco Alves encheu de pomada a bunda do imenso bebê maranhense —, o craque do futebol Leônidas da Silva e a menina Saquarema Marta (amiga da minha avó; popular após ter desmaiado no colo de Vargas durante uma cerimônia cívica) hastearam a bandeira brasileira ao som do hino nacional. Saquarema recitou ainda um versinho:

“Ó mamães do Brasil, todas as vezes/ Que a fralda da criança for trocada / Combatam a bactéria que há nas fezes/ Aplicando Hipoglós com mãos de fada”.

Por Luiz Antonio Simas

Décadas depois, dona Saquarema relembrava em detalhes do concurso em qualquer evento no Lins de Vasconcelos — batizados, casamentos, churrascos, aniversários, torneios de futebol, velórios e o escambau. Há quem diga ainda hoje que tudo foi cascata da velha e que tal disputa nunca ocorreu. Quem saberá?

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