Por bianca.lobianco

Rio - Uma vez eu ouvi de um amigo que a verdade era uma linda moça que, infelizmente, morreu solteira. Ele tentou me dizer que ninguém quer muito saber a verdade verdadeira das coisas. Provavelmente nem ele. Talvez ele esteja certo: muitas vezes revelar, descortinar, se posicionar ou esclarecer dá trabalho e causa rebuliço desnecessário.

Um pouquinho de adaptação, omissão, imaginação ou maquiagem não fazem uma mentira, fazem? Se fazem, a mentira se tornou universal, pois o que mais se vê hoje é arte e fantasia em tudo o que é verdade que se vê por aí!

É curioso o paradoxo que nós, humanidade, vivemos: mostramos quase tudo (muitas vezes tudo!) no mundo digital. Relativizamos (pra ser otimista) a privacidade nas redes e fazemos parecer que vivemos num mundo de transparência absoluta onde tudo é revelado. Tudo é dito, mostrado e as verdades são absolutas. E é nesse mesmo universo que escondemos, disfarçamos, armamos... mentimos pra valer!

Verdade ou mentira? Existe verdade na mentira? Divulgação

As mesmas redes que nos vitrinizam (perdoem o neologismo) nos atiçam a não sermos verdadeiros — fotos perfeitas onde há rugas e olheiras, alegria coletiva onde há solidão, sucesso superestimado e angústia subestimada. Podemos ser simpáticos com quem não queremos ser, desleais com parceiros pelos inboxes da vida, reveladores de prometidos segredos no WhatsApp e vendedores de verdade perfeita ou de uma perfeição verdadeira que, na verdade, inexiste. É inventada. Fantasiosa. Mentirosa.
E agora, José? Será a mentira a nova verdade?

Na real, sempre houve não-verdades — talvez omitir a verdade seja uma tentativa de viver num mundo tranquilo, sem confusão nem brigas, dentro ou fora das redes sociais.

Para mim, verdade pode ser vendaval, tempestade. Já vi verdades virem à tona como tsunamis. Mas são libertadoras. A verdade é aquela sensação Vick Vaporub que um dia tivemos na infância.

E chegando pra ventar, ela faz algo importante com as relações, afetos e opiniões — com a verdade, só fica a casa de tijolo. Desmonta a de palha e cai a de madeira, mas o que é pra valer, fica. Eu ando obcecada pela verdade, mesmo sabendo que ela é uma solteirona.

O escritor George Orwell, do visionário ‘1984’, disse um dia que num mundo de enganos, fraudes e farsas, dizer a verdade é um ato revolucionário. E eu quero ser parte da minha própria revolução, buscando não mais que a vida da verdade. ( E alguém sabe além da vida, alguma verdade?)


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