Rio - Calor que vem de dentro, humor em descompasso, diminuição da libido. As sensações descritas são facilmente identificadas pelas mulheres que já passaram dos 50 porque fazem parte da menopausa, fase marcada pela perda hormonal feminina e que virou tema da peça de mesmo nome que acaba de estrear no Teatro das Artes, no Shopping da Gávea.
Rosi Campos, de 61 anos, que divide a cena com Pia Manfroni e Rose Abdallah, conhece bem o assunto. “A idade chega e a gente tem que estar preparada para isso. Sei bem o que é ter um inferno dentro de mim (risos). Parecia que eu estava pegando fogo. E ‘Menopausa’ veio para discutir esse tema. É uma comédia para a mulher se identificar e ver o quão ridícula a gente pode ficar se não houver uma aceitação da passagem do tempo. O bacana é que, hoje em dia, a mulher pode procurar tratamento e suavizar os sintomas”, diz a atriz.
Apesar de não ter feito reposição hormonal, Rosi procurou ter jogo de cintura para superar os sintomas que vieram com a menopausa e que estiveram presentes na sua vida por um ano. “Não foi tão difícil encarar esses sintomas, o pior é a diminuição de 30% da musculatura e a perda óssea. É muita pressão, mas a gente vai levando. O que importa é ter saúde. Sou uma pessoa paciente, mas a minha personagem na peça fica surtada com a chegada da menopausa. Ela reclama do marido, fica louca. Mas, cá para nós, não deve ser fácil para o homem aguentar uma mulher na menopausa. Talvez por isso os homens mais velhos prefiram as garotinhas. Elas são menos complicadas”, observa a atriz, que é dirigida por João Fonseca no teatro.
Casada com o fotógrafo Ary Brandi há 35 anos, Rosi não tem do que reclamar. “Meu marido segurou bem a onda, é muito animado. Mas não dá para negar que muda tudo, que o desejo sexual diminui. O melhor é a juventude, estar com tudo em cima, mas tento me manter o mais lépida possível”, diverte-se, completando. “Convivo bem com o envelhecimento. Fazer o quê? Não deixo para amanhã o que posso fazer hoje. Não é à toa que estou conciliando essa peça com a novela ‘Babilônia’”, frisa.
Como mora em São Paulo e faz dupla jornada de trabalho no Rio, Rosi está em sintonia com outra faceta da sua personagem em ‘Menopausa’. Assim como a aeromoça Val, a atriz vive voando. “A minha sorte é que não tenho medo de avião. Entrou, é só entregar para Deus (risos). O primeiro voo da minha vida já foi um problema. O pneu da aeronave furou e o comandante precisou pousar em Manaus, sendo que o nosso destino era o Acre. Quem já estreou assim, tira de letra (risos). Vivo na ponte aérea para poder trabalhar sem deixar de estar ao lado da minha família”, conta a mãe de Pedro, 29 anos, e avó de Luca, 8.
Nem a crise de audiência de ‘Babilônia’ afeta o humor de Rosi, que faz a manicure Zélia na novela das 21h. “Estou no núcleo cômico, que não sofreu alterações. Mas a gente vive em um país hipócrita, onde se convive com tanta violência, mas que não vê um beijo gay de uma maneira resolvida, natural”, comenta a atriz em referência à rejeição do público às personagens homossexuais vividas por Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg.