Por daniela.lima

Rio - Fernando Temporão começou no samba, com o grupo Sereno da Madrugada, em uma época da Lapa pré-revitalização. Teve músicas suas gravadas por nomes como Teresa Cristina, Áurea Martins e Monica Salmaso, mas sempre gostou de colocar um tempero roqueiro no meio da batucada — para isso, no entanto, teve que enfrentar preconceitos no universo dos bambas. 

'Queria fazer algo mais rock. O samba não está aí para ser modificado%2C o universo dele é de preservação'%2C dizDivulgação


“Sofria bullying  nos tempos do Sereno, porque queria fazer algo mais rock and roll. Acabei entendendo que o samba não está aí para ser modificado, o universo dele é de preservação, não é um espaço tão aberto”, conforma-se ele. “Isso de um branco da Zona Sul querer ocupar os espaços dos sambistas também não ajudou. Certa vez, um negão tirou sem cerimônia o tamborim da minha mão numa roda em Oswaldo Cruz!”

A paixão pela mistura de gêneros desaguou no disco solo ‘De Dentro da Gaveta da Alma da Gente’, que acaba de ganhar versão em LP (a velha bolachona de vinil) e será lançado hoje, às 21h, no Oi Futuro de Ipanema, na estreia da terceira edição do projeto ‘A.Nota’, dedicado a novos artistas.

“Não ser samba o suficiente para o universo deles ou não tocar algo que seja explicitamente rock para um roqueiro atrapalha muitas vezes, mas fico feliz em fazer o que gosto. Meu som solo, eu chamo de indie com pitadas de MPB”, classifica. “Mas ainda tenho muitos amigos na Lapa e, quando vou ao Semente, a Aline (dona do tradicional bunker sambista no bairro) adora e até me dá cerveja de graça.”

Depois do Rio, Temporão parte para o Japão, onde tem datas agendadas. ‘De Dentro da Gaveta da Alma da Gente’ já tem mais de 70 mil plays no Soundcloud e foi baixado por mais de 15 mil internautas.

“Mas o som do vinil é outra coisa! Era um sonho meu lançar neste formato. É caro produzir, custa o triplo que fazer em CD, mas vejo que as pessoas têm voltado a comprar. Às vezes, nem têm toca discos, mas a arte em tamanho grande chama a atenção e dá vontade de comprar até como um item de colecionador. Gostei e agora só vou lançar LPs!”, decreta.

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