Rio - Glória Menezes celebra seus 80 anos encenando ‘Ensina-me a Viver’, peça que estreou em 2007 e está de volta a partir desta sexta-feira no Theatro Net Rio, após ser assistida por mais de meio milhão de pessoas. A atriz, que sobe ao palco novamente ao lado de Arlindo Lopes, 36 anos, não se arrisca em tentar ensinar a receita de uma vida perfeita, mas deixa escapar o que pode ser uma dica para os mais jovens.
“Sou alegre, não crio caso. Eu não complico, eu descomplico”, afirma. Cabeça boa, não dá bola para a passagem do tempo, muito menos para o mais inevitável dos acontecimentos. “Não penso na morte nem tenho medo dela. É uma coisa que esta aí, que vai acontecer um dia, mas não faz parte do meu cotidiano ficar pensando nisso. Quando eu tinha dez meses, tive uma bronquite capilar, que, na época, matava as crianças de uma hora para outra. Mamãe contava que eu fui salva por Frei Galvão. Então, eu sempre repito: “Frei Galvão, o senhor me salvou e me deixou nessa vida, então, por favor, deixa eu viver a vida 100% e, quando for para eu morrer, faz eu ir assim, num pluft. Quero morrer num pluft”, diz, se referindo ao desejo de morrer sem sofrimento.
A sede de viver de Glória faz com que ela não perca tempo imaginando o que o futuro lhe reserva. “Vivo a minha vida um dia de cada vez, não penso no que vai ser de mim amanhã. Vivo o hoje”, frisa. E o que tem para hoje é curtir mais uma oportunidade de contar a história de amor da octogenária Maude com o jovem Harold em ‘Ensina-me a Viver’. “Essa peça fala de uma jovem de 80 anos e um velho de 20 (risos). No decorrer do espetáculo, a Maude passa para o Harold o ensinamento de não se preocupar com o julgamento dos outros, de fazer o que tem vontade. Tudo isso é de uma verdade. O meu temperamento é de rodar a baiana e fazer as coisas acontecerem”, revela.
Glória tem em comum com Maude a alma alegre e corajosa. Mas a atriz, que é casada há 51 anos com Tarcísio Meira, 79, não acredita em relacionamentos com grande diferença de idade. “Esse romance funciona dramaturgicamente, mas não sei como seria na vida real. É complicado, não é aconselhável. É preferível pegar alguém mais ou menos da sua idade, porque as experiências são praticamente iguais. Não me atrevo a dizer se vale a pena ou não, mas fácil não é. A maneira de pensar é diferente. Você aprende é com o tempo mesmo, não tem essa. Você vai sendo mais doce, mais acessível às coisas dependendo do que passa durante a vida”, comenta.
Na trajetória de Glória, uma experiência que ela usou e abusou foi dividir a cena com Tarcísio. E a atriz não descarta repetir a dose. “Tenho vontade de voltar a trabalhar com o Tarcísio, mas ele agora vai fazer a peça ‘O Camareiro’ e, em outubro, eu começarei a gravar uma novela. Só não posso dar detalhes, por enquanto, desse trabalho”, despista.
Com 48 anos de serviços prestados à Globo, Glória elege a obra que mais lhe deixou saudades. “Fiz todos os meus trabalhos com muito prazer, mas ‘Irmãos Coragem’ (1970) foi especial porque fiz três papéis: Lara, Diana e Márcia. Essa novela foi muito desafiadora para mim. Sentia o coração bater no pescoço, ficava com medo de não estar fazendo certo porque era tudo muito corrido, tinha pouco tempo para decorar”, recorda.
Por ter uma história que se confunde com a da Globo, a ausência de Glória na festa dos 50 da Globo foi sentida. “Eu e Tarcísio estávamos na fazenda, mas assistimos pela TV”.
Os beijos polêmicos das novelas
Antenada com as transformações da TV, Glória tem acompanhado a repercussão causada pelo beijo gay protagonizado por Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg em ‘Babilônia’. “Antigamente, a polêmica não era o beijo gay, era eu beijar outro ator em cena que não fosse o Tarcísio. Eu acho que as coisas têm que ser respeitadas, explicadas e aceitas. Você vai fazer só o que as pessoas acham que deve ser feito? Não! O beijo gay faz parte do cotidiano. Mas é preciso que as crianças sejam bem educadas, preparadas para entender a vida.”