Rio - A ficha só caiu quando Leona Cavalli assistiu ao filme ‘Anna K.’ pela primeira vez. Em cartaz no cinema, como a personagem de Liev Toltstói, e no teatro, como Frida Kahlo, naquele momento, a atriz percebeu que os dois trabalhos têm muito mais em comum do que imaginava. “Os dois tratam de mulheres muito fortes e neles há a presença constante das artes plásticas”, compara ela, que, além de estar em cartaz no Teatro Fashion Mall com ‘Frida y Diego’, protagoniza o primeiro filme do artista José Roberto Aguilar.
As telas e instalações do cineasta estreante estão presentes em muitas das cenas do longa. Em geral, elas servem como cenário para os sonhos e delírios de Joana (Leona), que sofre de dupla identidade, acreditando que é também Anna Karenina. “Admiro muito o Aguilar. Filmamos na casa dele, entre suas obras. Foi incrível, principalmente porque comecei a pintar também há um tempo”, diz ela, que garante encarar a atividade apenas como hobby.
“Um dos primeiros filmes a que assisti foi ‘Anna Karenina’, com a Greta Garbo. No filme do Aguilar, trazemos essa história para o contemporâneo”, comenta Leona. Mas não pense que a trama recria o romance de Toltstói nos dias de hoje: ela serve como elemento dentro da história da protagonista Joana e suas neuroses.
No original, de 1877, Anna Karenina choca a alta sociedade russa quando deixa o marido para viver junto a seu amante. No drama protagonizado por Leona, Joana passa a ter aulas de russo e se apaixona por seu professor (Vadim Nikitin). “O filme fala sobre a psique, do bem e do mal dentro da gente. Mas é verdade que sempre tive a sorte de interpretar grandes mulheres”, conclui a atriz.
“Amei quando a Maria Adelaide me chamou para fazer a Frida. Sou louca por ela, que deixou um legado tanto para as artes plásticas, como para o comportamento humano”, destaca ela que, para conhecer melhor o universo da personagem, fez as malas e foi para o México.
“Visitei a casa dela e fiquei muito impressionada. A Frida é muito presente na cultura latino-americana, na fotografia, nos adereços, nas coisas que deixou escritas, além de suas pinturas únicas, que são como um diário pintado mesmo”, lembra-se.
Morta em 1954, a artista mexicana ousava muito além de seu tempo. Sua vida foi pontuada por atitudes libertárias, pelo turbulento relacionamento com o pintor Diego Rivera, ciúmes e traições — com homens e mulheres. “Devemos agradecer a essas gerações de mulheres que vieram antes de nós, como Pagu, Tarsila do Amaral, Leila Diniz...”, lista Leona. Mesmo otimista em relação ao futuro, ela acredita que ainda estamos muito atrasados em comparação às suas personagens. “Estamos vivendo uma grande formatação em todo o planeta. Sinto que é o momento de irmos adiante. Ainda tem muita coisa para mudar: preconceito, racismo, homofobia, corrupção, falta de ética, descuido com os valores humanos em geral”, analisa a atriz.