Rio - É ‘Dancê’, mas não é dance music, como faz questão de explicar Tulipa Ruiz, lançando seu terceiro disco — cujo título é esse mesmo, ‘Dancê’. Uma palavra que não teria surgido não fosse o contato dela e do irmão Gustavo Ruiz com um grande nome da MPB, colaborador do álbum.
“A gente estava trabalhando com João Donato em ‘Tafetá’ (que traz o cantor na voz e no piano) e, quando preparávamos a música, falei: ‘E se tiver um dancê no meio?’ Ele respondeu: ‘Isso mesmo, vamos fazer um dancê’”, diz, rindo. “Começamos a usar a expressão de brincadeira e virou o título”, diz a cantora.
É para dançar, mas nada a ver com a música eletrônica, muito embora a cantora tenha lançado o EP ‘Tulipa Remixes’ no ano passado e se aproximado desse universo. “O disco novo tem um BPM (batidas por minuto) acelerado, mas dançar é amplo, que vai de passos coreografados a algo abstrato. A gente vai de Sarajane (pioneira do axé) a Pina Bausch (coreógrafa e dançarina alemã)”, diz.
A citação de Sarajane (lembra de ‘A Roda’?) não vem à toa. Entre referências à disco music e ao pop nacional dos anos 70 e 80, ‘Dancê’ lembra a música baiana pré-axé, de Luiz Caldas e Pepeu Gomes. O estilo paira sobre ‘Proporcional’, o primeiro single, uma canção de amor que brinca com os tamanhos de roupa (GG, P etc.). E sobre ‘Virou’, parceria de Gustavo e Tulipa (autores de todo o disco) com o pai dos dois, o guitarrista Luiz Chagas, e mais dois colegas seus de instrumento: o paraense Felipe Cordeiro e seu pai, Manoel Cordeiro.
“A Bahia aparece na influência que temos da guitarra do Pepeu Gomes. E queria juntar meu pai, que é superpaulistano, com o pai do Felipe, paraense. Queria ver como ficaria essa pororoca. Acabamos ‘indo’ para a Bahia em ‘Virou’. Cabe um arrocha ali.’ Falando em Pepeu, Tulipa tentou agendar um encontro com a ex-mulher do guitarrista, Baby do Brasil, para comporem para ‘Dancê’. Não foi dessa vez: as agendas não bateram.
Outra parceria tentada por Tulipa para ‘Dancê’ foi com o quadrinista americano Robert Crumb. “Queria que ele fizesse a capa do disco e achei que ele ia gostar tanto de me desenhar que nem ia cobrar”, brinca Tulipa. “Mas ele se aposentou e mora no Sul da França.”