Por tiago.frederico

Rio - Cássia Eller (1962 — 2001) tinha 21 anos quando fez registros caseiros de músicas das décadas de 1960 e 1970 no estilo voz e violão. Feitas em Brasília (DF), entre novembro e dezembro de 1983, essas gravações — pertencentes ao acervo de Elisa de Alencar — estão sendo lançadas em disco. Com distribuição da gravadora Coqueiro Verde Records, o CD ‘O espírito do som vol. 1 — Segredo’ alinha 10 gravações dessa fase inicial da cantora de origem carioca. A qualidade técnica não é das melhores. Mas o que importa é que ali, nesses 10 registros, ‘Segredo’ revela uma intérprete em estado bruto, mas já com o potencial para se tornar a grande cantora na qual Cássia se transformou ao longo dos anos 1990.

Cássia Eller (1962-2001) tem dez registros caseiros de voz e violão%2C feitos no fim de 1983%2C lançados no CD ‘O espírito do som vol. 1 — Segredo’Divulgação Filme 'Cássia Eller / Deborah Dornellas

O destaque é a gravação que abre e dá nome a este primeiro volume, ‘Segredo’, música de Luiz Melodia, lançada em 1975 na voz de Wanderléa. Como uma cantora de blues, Cássia parece expelir no canto todo o ‘ódio interno guardado’ de que fala a letra do compositor carioca. Já ‘Sua estupidez’ (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1969) impressiona menos pelo registro de Cássia seguir linha similar ao feito por Gal Costa em 1971 no show ‘Fa-Tal — Gal a todo vapor’.

O valor de ‘Segredo’ é essencialmente documental porque o melhor de Cássia já foi lançado. De todo modo, já dá para identificar uma intérprete de forte personalidade nas interpretações de ‘Ausência’ (Ednardo, 1974) e ‘Airecillos’ (Marlui Miranda), música em espanhol gravada por Ney Matogrosso no álbum ‘Bandido’ (1976).

Seja como for, o que se ouve é uma cantora ainda em formação. Se pôs sentimento em ‘Ne me quitte pas’ (Jacques Brel, 1959), Cássia não expôs toda a dor e o desespero de ‘Good morning, heartache’, música de 1946 associada ao canto doído de Billie Holiday (1915 - 1959). Mas o diamante bruto tinha valor.

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