Rio - Erasmo Carlos, pode acreditar, sempre quis ser sambista. Algumas das primeiras canções que compôs ao lado do amigo Tim Maia (1942-1998) foram sambas. Esse e outros lados menos conhecidos, o cantor revela no DVD ‘Meus Lados B — Ao Vivo’ sexta e sábado no Oi Casa Grande. Entre rocks e baladas, Erasmo resgata balanços clássicos de sua carreira, como ‘O Comilão’, ‘Cachaça Mecânica’ e ‘De Noite na Cama’, presente que ganhou de Caetano Veloso no início dos anos 70.
“Sempre quero cantar essas músicas, mas meu show é de rock e os fãs de rock não aceitam muito samba. Acho uma bobeira, o dó maior é o mesmo nos dois gêneros”, brinca Erasmo, que recentemente recebeu até uma melodia de Xande de Pilares para pôr letra. “Eu sempre quis fazer sucesso em samba, até por traumas do meu começo de carreira. Roberto, Tim e eu tentamos entrar para a turma da bossa nova, e ela era muito elitizada. Quando consegui estourar ‘Coqueiro Verde’, gritei: ‘Aaaah, consegui!’”
O repertório do novo disco (e do show) é formado por canções que não foram hits, ou que ele quase não canta mais. Algumas de outros artistas, como a própria ‘De Noite Na Cama’, ‘Sementes do Amanhã’ (Gonzaguinha) e ‘Paralelas’ (Belchior). Em redes sociais, Erasmo vem avisando aos fãs que não adianta pedir hits manjados, como ‘Gatinha Manhosa’. Algo parecido com o que Ed Motta fez ao anunciar ao público que não tocaria ‘Manuel’ numa turnê, mas que rendeu a Ed posts maldosos em redes sociais.
“Eu até brinco com isso no show. Falo: ‘Não adianta pedir para eu cantar ‘Manuel’, que não vou cantar’”, brinca o artista, que recentemente reclamou no Facebook de quem usa redes sociais para “atingir a dignidade das pessoas”. “Tudo vem da forma de se expressar, né, bicho? Cada vez mais eu me convenço de que, quando você explica uma coisa, tem que explicar com detalhes.”
O próximo dia 18 de setembro será especial para Erasmo. O cantor passou maus bocados no Rock in Rio de 1985, ao ser escalado para abrir shows de bandas de heavy metal. Nesta data, ele abre a sexta edição do festival, dividindo o palco com Samuel Rosa (Skank), Dinho Ouro Preto (Capital Inicial) e, veja só, um nome do metal brasuca, Andreas Kisser (do Sepultura). Erasmo conta que, não, nenhum metaleiro jamais veio se desculpar com ele por tê-lo vaiado no festival. “Mas nem penso nisso. Às vezes até aparece um músico e fala: ‘Pô, eu estava lá naquele dia, mas a birita não me deixa lembrar o que eu fiz’.”
Revisitar seu material antigo também tem emocionado muito Erasmo, sempre lembrando de sua ex-mulher Narinha e de seu filho Alexandre, ambos mortos. “Quando a voz fica embargada, me seguro. Tento ser forte, mas o muro aqui é de isopor”, conta o cantor, focado apenas no seu repertório dos anos 70 e 80 nos shows. “Era a época em que eu tocava no rádio, em que as multinacionais pagavam jabá e eu tocava, né? Depois que saí delas, não toquei mais.”