Por roberta.campos

Rio - Wagner Moura tem nas mãos a chance de se afastar de vez de um personagem que há oito anos vive como sua sombra, o Capitão Nascimento do filme ‘Tropa de Elite’. É tarefa difícil olhar para o ator e não se lembrar de frases de efeito como: ‘Pede para sair!’ ou ‘Nunca serão’, que até hoje ecoam como sinônimo de algo que caiu no gosto popular.

Agora, o ator está no outro lado, portando um fuzil para fazer o mal e não para combatê-lo. Nada mais de dar tapa na cara de ‘vagabundo’ por causa de um baseado, pois é ele quem ‘dá um dois’ para relaxar. Sai a farda e entra a camisa social de manga curta. O corpo bem definido dá lugar a uma pancinha nada modesta e o rosto recebe um bigode imponente. É a figura de Pablo Escobar ganhando forma na pele de Wagner Moura na série ‘Narcos’, do Netflix, que estreia na próxima sexta-feira, com direção de José Padilha.

Wagner Moura na pele do traficante Pablo EscobarDivulgação/Netflix


Os sacrifícios foram muitos para que Wagner ficasse parecido com o maior narcotraficante da história. Vinte quilos a mais, muitos estudos, inúmeras aula de espanhol e mudança de endereço para a Colômbia. “Meu trabalho começou com a necessidade de falar e aprender espanhol, que eu não falava, então, comecei a fazer aula aqui, depois me mudei para Medellín, entrei na universidade lá e fiquei fazendo aula de manhã, de tarde e à noite, por quase seis meses”, detalha Wagner Moura, em entrevista exclusiva ao DIA.

A parte mais complicada ainda estava por vir. Sair de seu peso normal, que girava em torno de 76 kg, para ganhar formas mais arredondadas faz Wagner sofrer até hoje. “Engordei 20 kg e desses 20 kg eu só perdi uns 4 kg”, desabafa o ator, que passou a comer tudo de gostoso que via pela frente durante o processo de engorda: “Minha estrutura física é de uma pessoa magra, então é uma forçação de barra com o corpo fazer um negócio desse. Não é saudável, é ruim, me sinto pesado, cansado. Minhas taxas de colesterol, entre outras, foram todas para as alturas.”

Mesmo com um corpo fora de forma em decorrência do personagem, parece que Moura criou certa afeição por Escobar. Mas nem por isso ele quis santificá-lo em sua atuação. “Acredite ou não, Pablo era um ser humano. As pessoas querem que eu tome um partido. Claro que ele era um cara mau, cruel, mas as pessoas não são só boas ou más, elas são complexas”, reflete.

E o trabalho de Wagner como ator foi justamente entrar em todas as nuances que a história do
bandido permitia. “Me importa saber como as pessoas são em várias situações da vida. Como era ele em casa, o que ele pensava e como ele era sozinho fumando um baseado às 3 h da manhã na fazenda dele”, divaga.

Foi um mergulho profundo no passado do traficante. Mas nem por isso Wagner seguiu à risca os costumes do criminoso na hora de filmar. Os baseados que ele aparece fumando nas imagens, por exemplo, são falsos. “O baseadinho era de mentira. As arminhas também”, garante, aos risos, o ator enrubescido. “Pablo é fundamental na história da Colômbia.Ela é dividida em antes e depois dele. Acho que li tudo que foi escrito sobre ele, inclusive o livro que o filho dele (Juan Pablo) escreveu, que é muito bom”, comenta. 

Parceria do ator com o diretor José Padilha pode render mais frutosDivulgação/Netflix


Em recente entrevista ao DIA, Juan Pablo reclamou de não ter sido procurado pelos produtores da série após se oferecer para prestar consultoria. Inclusive, chegou a apostar que mostrariam o pai sendo morto por franco-atiradores na produção, o que ele considera uma grande mentira.

“Eu não tive contato com familiares. Mas Juan Pablo e o próprio tio Roberto divergem na ideia de que Pablo se matou. A polícia de Medellín diz que foi um tenente e também existe um paramilitar que diz que foi seu irmão, um dissidente do Cartel de Medellín, que o matou”, justifica o ator, sem adiantar a versão ‘comprada’ por Padilha.

“Não sei qual é. Na verdade, não filmamos a morte de Pablo. Espero que tenha a segunda temporada”, sugere, dando pistas de que a sequência da série pode sair do forno em breve. Entretanto, é bom que os fãs da dupla Padilha e Wagner saibam que o sucesso da parceria não vai render mais nenhuma produção referente ao ‘Tropa de Elite’.

“O Tropa já acabou. Agora vamos partir para outras produções. Ano que vem, vou dirigir meu filme. Comprei os direitos da biografia do Carlos Marighella, escrita por Mario Magalhães. Outro filme político”, diverte-se,
aproveitando para dar uma alfinetada na direita: “Muito desse movimento do extremismo que o Brasil vive hoje, principalmente do povo de direita com essa coisa da maioridade penal, é por não ver as pessoas como cidadãos. Você não pensa que um menor pode ser seu filho, só pensa que é um menino preto, bandido, que roubou e matou. Ninguém o enxerga como um ser humano.”

“As pessoas já vêm com uma ideia ruim pré-concebida de que precisa se livrar daquilo, encarcerar. Na cadeia tem os que fizeram merda, alguns são filhos da puta mesmo, outros estão presos por coisas mais leves, mas todos são pessoas. Precisamos ter essa noção”, instiga.

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