Rio - Prosseguindo com a série de verbetes afetivos sobre o Rio de Janeiro, hoje com as letras X, Y e Z:
X do problema — Noel Rosa cantou a pedra, em samba memorável: “Ser artista é bem fácil/Sair do Estácio é que é o X do problema”... Se bem que, para o verdadeiro carioca, não há problema sem uma solução.
Yamandu Costa — Ele é gaúcho (de Passo Fundo, tchê!), daqueles de levar erva mate e chimarrão até para a igreja, mas de tal maneira integrado no espírito carioca, nas rodas de samba ou de choro, no Carnaval ou nos bares mais bacanas da cidade, que já se tornou figurinha colecionável e admirável pelos curtidores da boa música no Rio. Considerado um dos maiores violonistas do Brasil, um dos mais respeitados no mundo inteiro, Yamandu conquistou de vez o público carioca quando gravou CD antológico ao lado de outro forasteiro que o Rio amava, o superclarinetista Paulo Moura (paulista de São José do Rio Preto). Podese dizer que o grande mago do violão é mesmo um cariúcho.
Zé da Zilda e Zilda do Zé — Um não vivia sem a outra; outra não compunha sem o um. O Zé (José Gonçalves, 19081954) fez um caminhão de sambas lindos. O meu preferido diz assim: “Falam de mim, mas eu não ligo, falam de mim, que sempre fui amigo / Um rapaz como eu, não merece essa ingratidão, falam de mim, mas quem fala não tem razão...” Zilda Gonçalves (19192002) fez muitos sambas com o Zé. O mais bonito teria feito depois que ele morreu (há controvérsias) e diz assim: “Vai, vai, amor, vai que depois eu vou / Sei que vais pra longe, não poderei te esquecer...”
Zé Kéti — “Eu sou o samba, sou natural daqui do Rio de Janeiro”. Carioca da Pavuna a Copacabana, o grande compositor e sambista José Flores de Jesus, o Zé Kéti (19211999), foi um dos cariocas mais simpáticos que rodas de samba como as do Opinião ou do Bip Bip, bem como amantes da MPB ou do cinema, já aplaudiram. Zé foi o mais popular dos compositores da Música Popular Brasileira. Guardava no peito, como mote e fonte de inspiração, o sentimento do homem das ruas, dos bares e dos morros da cidade, onde viveu a sua vida inteira e onde morreu. Nos últimos anos, flertou muito com São Paulo, ali chegou a ter casa montada. Mas era no Rio, na Pavuna, na companhia dos amigos portelenses, que repousava o seu coração. Conviveu com períodos de muito sucesso e de absoluto ostracismo em sua carreira. Paulinho da Viola diz que Zé Keti era o maior compositor vivo do Brasil. Zé Renato, que fez um belo disco cantando toda a obra dele, acha a mesma coisa. Outras autoridades no assunto também acham. Mesmo assim, o artista morreu pobre, como morreram Nelson Cavaquinho, Wilson Batista, Geraldo Pereira, Cartola, Padeirinho e outros tantos camisas 10 da MPB.