Rio - Mal lançou CD e DVD com o registro ao vivo do show dedicado ao repertório de Zé Ramalho, o cantor e compositor maranhense Zeca Baleiro já está de volta ao mercado fonográfico com ‘Café no bule’. Trata-se de disco de músicas inéditas, compostas por Baleiro com o percussionista pernambucano Naná Vasconcelos e o músico paulista Paulo Lepetit. O trio assina o álbum, editado pelo Selo Sesc com 13 músicas.
Com exceção de ‘Caju’, parceria de Vinicius Cantuária e Naná já gravada em 1999, o repertório é inédito em disco. A diversidade rítmica é o açúcar de ‘Café no bule’. O repertório inclui ciranda, samba, ijexá, xote, coco e maracatu, entre outros ritmos brasileiros e até estrangeiros (‘Vou de candonga’ tem ‘groove’ angolano).

TRIO FAZ ‘BATUQUE NA PANELA’
A qualidade da safra autoral oscila, mas a formatação das faixas valoriza as músicas. ‘Ciranda da meia-noite’, que abre o disco com toques de ijexá e convite à dança, sobressai no repertório ao lado de ‘Batuque na panela’, samba que buscou reproduzir a cadência dos temas dos terreiros. Em contrapartida, músicas como ‘Yellow taxi’, faixa de tom meio cigano, sinaliza que o trio poderia ter servido com mais rigor o repertório de ‘Café no bule’.
Mais do que como compositores, os três brilham como músicos. Naná reitera a maestria na percussão, tirando efeitos de instrumentos inusitados. Além de dominar o canto do repertório, Baleiro toca instrumentos como violão, guitarra e cavaco. Já Lepetit pilota outra variedade de instrumentos, incluindo o ‘u-bass’, misto de baixo e ukelele.
Gravado durante dois anos, o disco foi concebido há mais de uma década. A ideia original era juntar Baleiro, Naná e o compositor paulista Itamar Assumpção (1949 - 2003). Só que a saída de cena de Itamar acabou propiciando a adesão de Lepetit ao projeto.
CANÇÃO PARA LUAU PAULISTA
O aroma mais saboroso de ‘Café no bule’ vem da mistura de sons nacionais. A fusão eventualmente até extrapola as fronteiras musicais do Brasil, com levadas caribenhas e africanas, mas o gosto é predominantemente brasileiro. Entre coco de roda (‘Mosca de bolo’) e festivo maracatu de baque-virado (‘Loa’, que fecha o disco com inspiração), ‘Café no bule’ serve canção talhada para luau, ‘A maré tá boa’. É luau à moda paulista — como ironiza Baleiro, com a habitual verve, ao caracterizar a faixa.
Há vinhetas entre as 13 faixas. ‘Eu vim foi’ e ‘Tem café no bule’ cumprem essa função na costura do repertório do disco. Mas o aroma vem mesmo do encontro dos artistas e da miscigenação de estilos. ‘Café no bule’ pode não ser o melhor CD de Zeca Baleiro, mas tem lá seus sabores.