Rio - Nunca me interessei em conhecer os Estados Unidos. Nunca mesmo. Minto, quando criança sonhava com a Disney, com suas montanhas-russas, em fazer fotos com o Pateta e outros personagens. Mas o máximo que nosso capital permitiu na época foi uma visita à Cidade da Criança, em São Paulo. Nem sei se isso existe mais. Mas na ocasião quebrou um galhão. Muita gente não percebe, mas criança não precisa de muito. Até hoje me lembro da emoção de atravessar o parque em um teleférico. E também da confusão que me causou entrar na casa dos espelhos. Meus pais se viravam para me pagar um bom colégio, e não sobrava para muita coisa.
O tempo passou, e eu tive a oportunidade de viajar por aí. E viajei o bastante, o que deu. Algumas vezes por conta do meu trabalho, da minha profissão, outras tantas com meu próprio suado dinheirinho. Apesar dos relatos dos amigos sobre Nova York, eu sempre protelei, adiei, deixei para lá. “Compras, compras!”, dizia uma amiga com os olhos brilhando. “Um banho de cultura!”, exclamava outra. “O centro do mundo”, ululava um colega mais deslumbrado.

E lá fui eu. Tirei meu visto americano aos 46, espero, do primeiro tempo, depois de filas, fotos e impressões digitais. Há duas semanas, enfim, embarquei. Primeiro para a pacata Richmond, para o aniversário de um tio, Claudio, depois para Nova York, de onde escrevo esta coluna.
Não, definitivamente não foi o frenesi consumista, oportunidade única de comprar aquele produto que não existe no mercado brasileiro, ou que está uma pechincha, como se houvesse pechincha com o dólar em torno dos R$ 4. Não consigo entender, de forma alguma, alguém viajar para um lugar distante caro para se enfurnar em centros comerciais gigantescos. Sei lá, quando acabar o maluco sou eu.
Quase enlouqueci, às avessas com as luzes da Times Square. Na primeira vez que vi aquele clarão do alto da sétima avenida corri para lá. Na segunda vez que entrei naquele imenso outdoor de luzes, propagandas, naquele mar de gente desorientada como insetos em volta da lâmpada, queria morrer, fiquei tonto, pensei na pessoa responsável pelo interruptor.
Nova York é encantadora pelas suas ruas, pelos seus sons, pela sua multiplicidade, até pelo cheiro insuportável dos podrões travestidos de food truck. A melhor mordida da maçã é pegar um vento frio numa das avenidas, quebrar em uma ruela e dar de cara com um sol de outono. Estar no topo da cadeia alimentar não é patrocinar guerras, mas sim ser um terreno fértil para a mistura, para o não se incomodar com o outro, para um olhar universal diante das coisas. Nova York não faz parte de nada, de nenhum país, mas é um pedaço de tudo.