Por karilayn.areias

Rio - Quando escreveram a peça que gerou o livro ‘Gota D’Água’ em 1975, Chico Buarque e Paulo Pontes provavelmente não imaginavam como o texto ainda faria sentido mais de 40 anos depois. A história fala sobre o casal Jasão (Alejandro Claveaux) e Joana (Laila Garin) que moram numa comunidade e acabaram de se separar. Ele a larga para para ficar com a filha de um rico empresário. “O foco é a história do Jasão e da Joana, mas a peça também é política. Fala da comunidade, do que as pessoas pensam, sentem. O texto permanece”, afirma Alejandro, que recorda que no dia do afastamento da presidente da república Dilma Rousseff, estava no meio do discurso de um personagem quando aconteceu uma manifestação da plateia. “Estava numa fala de Creonte (rico, empresário), e alguém gritou ‘golpista’. Entendo como uma reação democrática, compreensível, mas só aconteceu desta vez”, diz Alejandro.

Alejandro Claveaux com a atriz Laila GarinDivulgação

O diretor Rafael Gomes destaca a importância da reflexão proposta na obra. “É político, mas não no sentido partidário, e sim, da discussão da luta de classes, da opressão. Focamos na história de amor, mas a questão está lá, na reflexão das atitudes diárias, na tema político do estar vivo”, aponta.
Sobre a criação dramatúrgica, Rafael esclarece que a encenação com formato reduzido, só com dois personagens no palco, não teve como objetivo somente viabilizar a montagem, embora isso tenha acontecido. “A intenção foi secar mesmo. A peça original é linda, mas tem muitas referências de uma época. O que move a nova versão é colocar nosso sangue lá, a investigação artística, dialogando com a plateia de hoje”.

Alejandro Claveaux e Laila Garin, como protagonistas, propõem uma busca intensa de seus personagens através do trabalho corporal. “É muito físico. Tudo feito através da simbiose, conexão dos corpos”, diz o ator, que gravou simultaneamente a série da Globo ‘Nada Será Como antes’, que narra a história da TV no Brasil, assinada por João Falcão, Guel Arraes e Jorge Furtado, com estreia prevista para setembro. “Faço um ator de telenovelas,contando essa história. É uma metalinguagem”.

Os atores contam a história de Chico Buarque e Paulo Pontes, acompanhados de cinco músicos, com direção musical de Pedro Luís. O diretor conta que Chico foi assistir, e mesmo discreto, deixou escapar sua reação. “Ele terminou a sessão com os olhos marejados, era clara sua emoção. Foi a melhor resposta”, diz Rafael Gomes.

A reação foi o melhor aval para a frase que está no prefácio do livro: “O fundamental é que a vida brasileira possa, novamente, ser devolvida, nos palcos, ao público brasileiro. Esta é a segunda preocupação de ‘Gota d’Água’. Nossa tragédia é uma tragédia da vida brasileira”, diziam os autores. 

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