Por roberta.campos

Rio - ‘Nunca cheguei a ser amiga do Gonzaguinha, mas me sinto como se eu tivesse dormido e acordado várias vezes com ele. Ele não era um cara bonito, mas era um bicho danado aquele homem, muito sedutor!”, exclama Angela Ro Ro, escalada para dividir com Luiz Melodia ‘Grito de Alerta’, música do cantor e compositor (1945-1991), na homenagem a ele no 27º Prêmio da Música Brasileira.

A cerimônia, marcada para quarta-feira no Theatro Municipal, traz também Ney Matogrosso (‘Explode Coração’), Criolo (‘Comportamento Geral’), Alcione (‘Com A Perna no Mundo’), Dônica (‘Lindo Lago do Amor’) e vários outros nomes relendo canções de Gonzaguinha.

Angela Ro Ro%2C Ney Matogrosso e Luiz Melodia ensaiam juntos no estúdio Márcio Mercante / Agência O Dia


Durante o ensaio no Estúdio Floresta, no Cosme Velho, enquanto Ney encara a dramaticidade de ‘Explode Coração’, Melodia e Ro Ro esforçam-se para aumentar as velocidades de seus vocais para cantar ‘Grito de Alerta’. As duas músicas, popularizadas por Maria Bethânia, têm versos bastante extensos. “Nem sabia a letra, li hoje, acredita?”, comenta Luiz Melodia, em meio à preparação. O autor de ‘Pérola Negra’, por sinal, tem ótimas lembranças de Gonzaguinha, com quem dividiu palcos nos anos 1970. E tem também duas coisas em comum com ele.

“Nós dois fomos criados lá no Morro de São Carlos (Estácio), mas nunca ouvi falar dele no morro. Só fui conhecê-lo na época dos festivais, dos programas de TV”, lembra Melodia, seis anos mais novo que o colega, com quem também batia uma bolinha. “A gente jogava lá no Caxinguelê, no Jardim Botânico. Ele jogava bem, mas era mais para a gente se divertir. Ninguém ali era craque”.

O filho de Luiz Gonzaga era craque, sim, mas em músicas que falavam sobre temas controversos nos anos 1970, como sexo, política e relacionamento homem-mulher — sempre com toques de romantismo. “Hoje, as pessoas têm valores radicais e com isso vem censura. As pessoas se sentem podadas, perdem a espontaneidade”, conta Angela. Ney recorda que Gonzaguinha o convenceu a gravar ‘Homem com H’, um grande sucesso seu.

“Eu não queria gravar, porque não era cantor de forró. Ele foi ao estúdio, mostrei para ele e Gonzaguinha disse: ‘Ney, só você vai conseguir gravar isso e fazer a música soar engraçada!’”. Gonzaguinha também lhe prometeu uma música, que nunca foi entregue. “Ele dizia que queria fazer uma música para mim, perguntava qual poderia ser o tema... Um dia, dei a ele um gravador e disse: ‘Me devolve no dia em que você fizer a música para mim!’. Mas ele nunca mandou a música”, brinca.

Guerreiro menino

Transmitido ao vivo pelo Canal Brasil a partir das 21h, o 27º Prêmio da Música Brasileira traz pela primeira vez esquetes teatrais em meio às premiações. Dira Paes interpreta Dina, mãe adotiva de Gonzaguinha, e Júlio Andrade, que já havia interpretado o compositor no filme ‘Gonzaga — De Pai Pra Filho’ (2012), volta ao papel durante a cerimônia.

Júlio também solta a voz em ‘Guerreiro Menino’ e ‘Redescobrir’ (lançadas, respectivamente, por Fagner e Elis Regina). Nesta última, emoção garantida com as participações dos filhos de Gonzaguinha, os cantores e compositores Daniel Gonzaga, Fernanda Gonzaga e Amora Pêra. 

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