Rio - As brincadeiras do apresentador Marcelo Rezende com o comentarista Percival de Souza e os repórteres do ‘Cidade Alerta’, da Record, viraram um dos pontos altos da atração, que tem média de 8 pontos de audiência, garantindo o segundo lugar no horário. “Eu sempre fui e sou uma pessoa de bom humor e sempre pronto para uma piada. Mas isso só apareceu publicamente no ‘Cidade Alerta’”, conta Rezende.
Ao longo das três horas de programa, alguns assuntos policiais ganham contornos tragicômicos e divertem o público. Mas nada é previamente combinado. “Tudo é na base do improviso. Têm certos personagens, como golpistas, homens que tentam iludir a polícia e estelionatários, que são prato cheio para as brincadeiras. Mas é preciso dosar isso para não brincar com coisa trágica”, pondera Percival.
APELIDOS
É comum ligar a televisão no programa e ouvir Rezende com seus bordões como “Corta pra mim” e “Sapeca iaiá” (outros no box ao lado). Isso sem contar nos apelidos como ‘Lente Nervosa’, como é conhecido o comandante Hamilton, ‘Capitão Nascimento’ para a repórter Lilliany Nascimento, e ainda o Ernani Alves como ‘Ernani Leva Bala’. “Era e é um jeito de as pessoas assimilarem mais rapidamente e ter intimidade com os repórteres, que, em geral, são pouco reconhecidos e conhecidos do público. Deu certo”, garante. Os profissionais mais tímidos ou que ficam um pouco constrangidos no ar, Rezende opta por chamá-los pelo nome. “Mas eles estão perdendo a oportunidade de fazer parte da família que reúne o ‘Cidade Alerta’ e as pessoas que estão em casa. Mas cada um é cada um”, completa.
Marcelo Rezende garante não saber se algum repórter não gostou de algum apelido dado por ele. Pelo menos nunca falaram com o apresentador. “Fico, às vezes, pensando se não falam por receio de eu não gostar ou timidez. Em Porto Alegre, tem a ‘Alisando o Gato’ (Lisandra Ongaratto), que é linda e competente. Até hoje acho que ela não se ajeitou com a brincadeira. É preciso ter um espírito livre, perder uma importância que o jornalista acredita que tem”, provoca.
ARREPENDIMENTO
Mas, uma vez, Rezende pesou a mão na crítica e se arrependeu de um comentário que fez sobre a repórter Fabíola Gadelha, chamada de ‘Rabo de Arraia’ e que, aos sábados, divide o comando do programa com Luiz Bacci, o ‘Menino de Ouro’. “Me arrependo. Um dia, fiz uma crítica violenta no ar sobre a Fabíola ‘Rabo de Arraia’. Eu estava angustiado porque ela não estava avançando, e não tinha gostado de uma reportagem dela. Desanquei no ar. Os filhos da Fabíola estavam vendo — ela falou comigo brava. Chorei vários dias em casa sozinho, porque eu sabia que estava errado e sabia que tinha feito tudo errado. A Fabíola é uma dádiva de Deus, ela é a simplicidade e o carisma em forma de gente. Me desculpei, e ela, generosamente, aceitou”, observa.
Mas já que Rezende gosta de colocar apelido nos outros, será que ele tem apelido? Ele garante que não. “Tinha quando era da Globo: ‘Tela Cheia’, porque engordei 23 quilos com a morte dos meus pais. Pena que lá não podiam falar isso ao vivo”, relembra.
Percival conhece Marcelo há 30 anos e conta como gosta de chamar o colega de trabalho. “Marcelão”, confessa, aos risos. Rezende também tem os apelidos de Percival na ponta da língua. “De ‘Predial’ passou a Perci, de Perci a ‘morto’ e agora Faraó, porque o trono agora ficou pomposo”, explica.
PERCIVAL, O FARAÓ
O trono que Marcelo Rezende se refere é uma réplica do trono do rei Nabucodonosor, da Babilônia, que fica no meio do estúdio. O mimo cenográfico foi ideia do apresentador para dizer que o colega de trabalho é um homem ostentador. Na verdade, Percival é um capítulo à parte no programa. Jornalista com 72 anos de idade e 45 de profissão, 18 livros publicados, tem quatro Prêmios Esso — premiação concedida aos jornalistas brasileiros — e uma carreira reconhecida no jornalismo investigativo.
“Mas as pessoas me conhecem mesmo é pelo ‘Cidade Alerta’. O Marcelo ainda criou essa ficção de que sou milionário, que ando de helicóptero, Lamborghini”, se diverte Percival. O problema é que as pessoas acreditam no conto da carochinha. “Recebo cerca de 30 cartas diariamente de gente pedindo ajuda para comprar casa ou ajudar a voltar para a terra natal”, lista ele, com bom humor.
Mas o troco do comentarista vem no ar mesmo. Rezende tem um bordão para chamar as reportagens: ‘Eu sei porque estava lá’. “Um dia, ele ia tratar de uma matéria sobre bordel. Quando ele ia chamar, eu perguntei se ele estava lá. Mas o Marcelo foi rápido no gatilho e disse: ‘Me contaram’. Cada vez que faço uma dessas, uma réplica com humor, as pessoas no estúdio e na ilha de edição interpretam como dando a volta, o troco. Até sobem o som de palmas para mim”, diverte-se.
DINÂMICA DO PROGRAMA
Marcelo Rezende chega à Record por volta das 13h. Ele não toma conhecimento do que vai ao ar no programa. “Assim, tenho a mesma percepção, o mesmo impacto do público”, explica o apresentador. Já Percival chega à emissora por volta das 14h30 e começa a se inteirar das matérias, até para poder aprofundar seus comentários. No estúdio são três câmeras: uma fixa e uma móvel para Rezende, e uma outra fixa com Percival. Eles têm três pequenas televisões para acompanhar a concorrência. Cada uma no ar na Globo, SBT e Band.
Uma outra curiosidade dos bastidores: Rezende não gosta do teleprompter — aparelho que, acoplado à câmera, exibe o texto que será lido pelo apresentador —, ele adora improvisar a narrativa de cada caso. “Você acha que se eu ficasse todo o tempo só falando sério, só resmungando contra os erros do país no ‘Cidade Alerta’ teria dado tão certo? Eu não acho. Posso falar sério e brincar sem que uma coisa afete a outra”, defende Rezende.