Por nadedja.calado

Rio - Muito tempo antes de se tornar músico profissional, Pretinho da Serrinha era um fã de samba que não deixava de ficar ligado em música pop e sons black. E suas noitadas tinham endereço certo: o baile charme do Viaduto de Madureira, embaixo do Viaduto Negrão de Lima. 

“Eu morava ali do lado, na Serrinha. Quando tinha samba no Império Serrano, sempre ia no baile antes. Quem frequenta o samba, frequenta o baile. E até hoje!”, comemora Pretinho, que tem a honra de se apresentar amanhã justamente no aniversário de 27 anos do baile, cujo começo se deu em 19 de maio de 1990, um sábado. O popular “Dutão” comemora quase três décadas de resistência, valorizando os sons dançantes e românticos do charme mesmo que estilos mais urgente e pesados, como o funk, tenham ficado na linha de frente dos bailes.

“As batidas das músicas antigamente tinham entre 90 e 105 bpms (batidas por minuto) e chegam hoje a 115. O funk é 130. A gente estourando, estourando, chega a 105, que é o que preferimos”, diz o DJ Michell, que passou a tocar no Viaduto em 1994 e divide a pista amanhã com os amigos Fernandinho, Guto, Emekay e Xokolaty, sempre valorizando o repertório que deu fama ao baile. O grupo de DJs homenageia a equipe Só Mix, que foi muto importante nos anos 1990, época em que o baile começou e acrescentou novas sonoridades e batidas a uma região em que o samba dominava, mas cujos moradores não eram fãs de um estilo só.

“Em Marechal Hermes, todo mundo era ligado nas duas coisas, no charme e no samba”, exclama Pretinho, fazendo questão de dizer que comemora bastante o fato de o baile estar na ativa durante tanto tempo. “Além das escolas de samba, acho que nada durou tanto tempo em Madureira”, brinca. “É realmente um grande exemplo de resistência cultural. E um local que acaba passando de pai para filho”.

Pretinho da Serrinha%3A resistência no Baile CharmeDivulgação

MUDOU BASTANTE

Michell, que nesse tempo todo só esteve três anos afastado do Dutão — 1999, 2000 e 2001 — acompanhou todas as mudanças e evoluções do baile nessas quase três décadas. Em 1990, entrava-se no Viaduto de graça e não havia cercado embaixo do viaduto. “E as pessoas iam sempre ao baile muito à vontade, de chinelo, bermuda, tênis. Era quase uma resposta ao que acontecia nos bailes de clube, onde todo mundo ia quase como se fosse a um casamento!”, brinca Michell.

Os trajes foram mudando e o profissionalismo ao redor do baile foi ganhando outra cara, com cobrança de ingressos e uma grade. Ainda assim, o tíquete para entrar na pista nunca foi caro. “Quando tem um evento maior, o preço aumenta um pouquinho. Mas o principal sempre foi a manutenção do espaço. A cobrança serve para isso”, conta o DJ.

SEGURANÇA

Apesar do cercado, quase todo mundo que vai ao baile ou esteve ligado a ele de alguma forma, é taxativo ao afirmar que não há violência no local. “Nunca nem tivemos nenhum tipo de problema. Ter o local delimitado dá uma sensação de segurança, mas não é um problema que o baile tenha”, conta Michell. Pretinho concorda. “Não tem briga. As pessoas vão lá para dançar, para ver as gatas. Aliás vão até mais para dançar, vão focadas nisso”.

NA TV

A novela ‘Avenida Brasil’ de João Emanuel Carneiro, levou o baile charme para a TV a partir do Baile do Divino — e isso levou estrelas da TV pára lá. Além disso, no Dutão, já se apresentaram nomes como Racionais MCs, Sandra de Sá, Keith Sweat, Projota, Montell Jordan e vários outros. “O Keith Sweat (produtor e cantor americano de R&B) lotou o Viaduto. Você precisava ver como ficou!”, conta Michell.

PRETINHO

Honrando a tradição do loca, Pretinho vai misturar seu lado de sambista com sua faceta pop, de compositor com músicas gravadas por Jota Quest e Seu Jorge, no show do Viaduto. “Vão rolar músicas minhas e sambas de Zeca Pagodinho, Dona Ivone Lara, Arlindo Cruz. Bem variado”, revela.

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